1 de junho de 2022

Tempo de Leitura: 3 minutos

O tema “Lugar de autista é em todo lugar” nos remete à ideia que todas as pessoas autistas têm que ter condições de participação ativa em todas as esferas de nossa sociedade, e a participação no mercado de trabalho é algo importantíssimo. Cabe lembrar que o primeiro aspecto dessa discussão é que a entrada no mercado de trabalho é um direito de todas as pessoas, e as pessoas neurodivergentes carecem de equidade em relação às oportunidades para a entrada e permanência nesse mercado. Outro ponto que julgo importante citar é que no Brasil existe uma vasta legislação de promoção e inclusão de pessoas com deficiência, na qual as pessoas autistas se enquadram, tais como a Lei de Cotas, a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (da ONU), da qual o Brasil é signatário, entre outras. Dessa forma, o primeiro olhar deve ser à equidade de oportunidades. 

O segundo aspecto é a oportunidade das empresas de trazerem talentos diversos para seus quadros, com outras formas de pensar, terem equipes mais colaborativas, uma cultura mais humanizada, com inovação, e de serem organizações mais responsáveis, socialmente falando.

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Mas, quanto à inclusão de autistas, de que autistas estamos falando? Todas as pessoas autistas, com os diferentes níveis de suporte, podem trabalhar? Minha resposta e opinião é que sim, todas as pessoas podem trabalhar, desde que tenham os apoios necessários para sua inclusão, sendo assim possível uma inclusão profissional com qualidade. 

Em 2007, tive a oportunidade de conhecer algumas organizações nos Estados Unidos que faziam inclusão de pessoas com deficiência e fui conhecer uma experiência de inclusão de um jovem autista chamado John, com aproximadamente 20 anos de idade, e nível 3 de suporte! John trabalhava em um pequeno mercado de seu bairro, fazendo reposição de mercadorias, sempre acompanhado por um job coaching, profissional que conhecia profundamente as necessidades do John e o auxiliava nas atividades. John trabalhava com uma carga horária reduzida, de três horas diárias, três vezes na semana. Quando John não ia trabalhar por algum motivo, os clientes sempre perguntavam por que John não havia ido, pois sentiam sua falta. Ele se sentia muito querido pela comunidade. Neste exemplo vimos como o suporte, flexibilização do posto de trabalho e apoios necessários foram importantes para a inclusão profissional de John.

Quando falamos em mercado de trabalho, na maioria das vezes pensamos em grandes empresas e por vezes nos esquecemos que o mundo do trabalho tem diversas possibilidades também em empresas de pequeno porte, bem como a possibilidade de renda através de iniciativas de empreendedorismo. Conheci o Gabriel, jovem autista, que adora fazer bottons em sua casa. Esses bottons são distribuídos pelas empresas aos seus colaboradores, com algum tema específico, como o Dia da Consciência Negra, uma campanha de saúde, grupos de afinidade, entre outros. A família de Gabriel contatou um hotel na cidade em que moram e ofereceu os serviços do Gabriel para confecção de bottons. Em virtude da pandemia, e com todas as pessoas usando máscaras, o hotel encomendou bottons com a foto de cada colaborador como uma forma de os clientes e hóspedes saberem e conhecerem o rosto de cada uma das pessoas sem máscara. Gabriel, através dessa iniciativa, pôde obter renda com uma atividade que adora fazer. Abaixo deixo um link com o vídeo da experiência do Gabriel e sua família.  

Nas duas experiências que comentei, estiveram presentes a acessibilidade, a disponibilização dos apoios necessários, muita comunicação sobre as características das pessoas autistas e, com isso, tivemos uma satisfatória experiência de inclusão profissional. 

Obviamente, em todas as regiões do Brasil, estamos a anos luz de termos muitas experiências como as que relatei, mas precisamos incentivar a comunidade de pessoas autistas, seus familiares, organizações, universidades, bem como o poder público a apoiar a criação de políticas públicas que permitam e financiem programas de inclusão profissional para todas as pessoas autistas! 

Da mesma forma, a iniciativa privada, junto a empresas de diferentes portes, devido à necessidade de investimento social, pode contribuir para a criação e o financiamento de projetos para a inclusão.

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Psicólogo, especialista em terapia comportamental cognitiva em saúde mental, mestre em psicologia da saúde, com experiência na gestão de programas de diversidade e inclusão em empresas como Sodexo no Brasil. Há 4 anos, faz parte do grupo de trabalho sobre Direitos Humanos nas Empresas da rede brasileira do Pacto Global da ONU e é diretor geral da Specialisterne no Brasil, organização social de origem dinamarquesa presente em 21 países, que atua na formação e inclusão de pessoas com autismo no mercado de trabalho.

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