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Rafael Souza Lopes convidou Juliana Prado para executar uma uma ideia inusitada: criar uma torcida de autistas! E isso não ficou só no campo das ideias. Agora o Corinthians tem a primeira torcida de autistas do Brasil: os “Autistas Alvinegros”, que estreou com a faixa no Parque São Jorge, em um jogo de futebol feminino. E, ao debutar no estádio do Corinthians, a Neo Química Arena, deu sorte ao time, que ganhou de 4 a 0 do Santos, pela Copa do Brasil.
A incomum iniciativa ganhou apoio mesmo de torcedores que não são autistas e abraçaram a causa. Atualmente, oito pessoas — entre autistas e neurotípicos — compõem uma espécie de diretoria da torcida. Eles têm também um grupo de WhatsApp (com mais de 230 participantes, entre autistas, familiares e profissionais da área), usado para compartilhar informações a respeito do tema , além de um perfil recente no Instagram. já com mais de 4 mil seguidores (no momento da publicação desta reportagem), o @autistasalvinegros.
Ainda que eles mantenham contato com uniformizadas do Corinthians para organizar e participar de eventos juntos, os Autistas Alvinegros não são uma torcida organizada propriamente dita. Eles se definem como um movimento de inclusão social. “Os Autistas Alvinegros surgiram através do meu amor pelo Corinthians e pelo fato de eu me descobrir autista, tive um diagnóstico tardio aos 33 anos. Foi o casamento perfeito pra que tudo isso tivesse de fato um início”, narrou Rafael Souza Lopes, que é autista, tem 35 anos e trabalha como auxiliar de expedição. Então, segundo os próprios criadores, a torcida não é só para autistas, mas um movimento de inclusão social — criada, sim, por autistas, mas abraçando também familiares de autistas e simpatizantes da causa.
Juliana Prado, que é autista, tem de 30 anos (foi diagnosticada aos 28) e trabalha no setor administrativo dos Correios, conta sobre o surpreendente convite: “O Rafa quem teve a ideia e me chamou pra fazer parte. Aí, a união de dois autistas loucos pelo Corinthians resultou nisso”, brinca ela. “Nosso intuito é trazer visibilidade pro autismo e inspirar torcidas de outros times para que adote a ideia também”, explica Juliana.
“Já recebemos relatos de pessoas emocionadas quando viram nossa faixa estendida no estádio”, relata Rafael. “A gente tem recebido bastante mensagem de outros torcedores. Teve até vários palmeirenses que vieram nos elogiar. São grupos rivais [no esporte], mas é o que eu sempre respondo: essa causa vai além de clube”, reforça Juliana em um reportagem publicada no Estadão nesta semana.
Corinthians e o autismo
Na Neo Química Arena, existe um espaço destinado a acomodar corintianos com transtorno do espectro do autismo (TEA). No setor Oeste Superior, há uma sala com paredes e janelas que contam com isolamento acústico, além de atividades desenvolvidas para autistas e pessoas com deficiência intelectual. Autistas também têm direito a um ingresso gratuito e até três bilhetes com desconto de meia-entrada para seus acompanhantes.
Há outros estádios com iniciativas semelhantes, um exemplo é o Couto Pereira, estádio do Coritiba, no Paraná, que inaugura neste mês uma sala de acomodação sensorial, graças a uma parceria com o Instituo Ico. Destinado a autistas e seus familiares, o clube angariou mais de R$ 100 mil para construir a estrutura por meio de um leilão de camisas usadas pelos jogadores nas finais do Campeonato Paranaense deste ano, com o símbolo do autismo.
A reportagem do Estadão — de Bruno Accorsi e Ricardo Magatti — ainda cita iniciativas do Inter (em Porto Alegre, RS), do Náutico (no Recife, PE) e uma tentativa no Botafogo (no Rio de Janeiro, RJ — mas ainda sem o apoio do clube)
Camisetas
O grupo já fez duas camisetas para a torcida, demais apoiadores e corinthianos simpatizantes da causa. Os interessados podem comprar as camisetas pelo whatsapp +55 (11) 99883-2654 (com Rhuan). Cada camiseta custa R$70 mais o frente e é vendida por encomenda.
Quem quiser fazer parte da torcida, em qualquer região do Brasil, basta entrar em contato com Rafael pelo whatsapp +55 (11) 95198-8273 — ele deixa claro que todos os estados do país são bem-vindos. “A ideia é termos uma torcida só, bem grande com muitos representantes em todas as regiões do Brasil”, finaliza Rafael. Torcedores de outros times também podem contar com o apoio dos Autistas Alvinegros para montarem suas próprias torcidas de autistas e engrossar o movimento de inclusão social no futebol.
CONTEÚDO EXTRA
- Perfil da torcida no Instagram: Autistas Alvinegros (@autistasalvinegros)
- Reportagem do Estadão: “Autistas ocupam estádios, ganham visibilidade e lutam por inclusão no futebol“