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Para a psiquiatra Giovana Mol, os idosos, de uma forma geral, têm maior risco de desenvolver sintomas ansiosos e também o comportamento suicida. Esta é a época em que a gente apresenta maior risco de comportamento suicida, assim como a adolescência. Isso pode se referir a pensamentos ou atitudes ligadas ao autoextermínio. Então, a médica adverte que é muito importante sempre rastrear e observar se o idoso apresenta tais comportamentos. Afinal, essa população também tem maior risco de desenvolver fragilidade clínica. Quer dizer, uma dependência para atividades no dia a dia, principalmente relacionada a consequência de doenças clínicas. Ademais, Giovana lembra que idosos têm maior risco de desenvolver doenças clínicas. Por exemplo, hipertensão arterial e diabetes mellitus. Por isso, podem acabar tendo sequelas de problemas físicos. Isso pode levar à sensação de que a pessoa estaria perdendo a autonomia. Além disso, os idosos também têm maior risco de alterações cognitivas e quadros demenciais. Por exemplo, doença de Alzheimer e Parkinson. Isso, além de alterações que afetem áreas da cognição. Ou seja, memória e linguagem.
Neste cenário, temos o paciente dentro do TEA. A gente sabe que as pessoas dentro do espectro, de forma geral, independente da idade, têm maior risco de desenvolver comorbidades psiquiátricas, como os sintomas depressivos, ansiosos, dentre outros. O idoso também vai ter esse aumento, desse risco, desses transtornos, pondera Giovana Mol. Aliás, a psicogeriatra observa que existem alguns estudos iniciais sobre uma possível relação entre o TEA e a demência inicial, a demência de início precoce. Principalmente doença de Alzheimer. Ou seja, pode ser que exista um componente genético que possa levar tanto ao autismo quanto à doença de Alzheimer de início precoce, cujos sintomas iniciam antes dos 60 anos.
Algumas hipóteses dessa relação também podem ser oriundas das comorbidades psiquiátricas. Por exemplo, a gente sabe que o transtorno depressivo aumenta o risco de desenvolvimento de demência da doença de Alzheimer. Contudo, os estudos ainda são iniciais. Ou seja, isso não está comprovado. Aliás, outra questão interessante é em relação ao isolamento social. A gente sabe que as pessoas que estão dentro do espectro autista têm maior risco de isolamento social. Isso ocorre às vezes pela questão da dificuldade de socialização. Mesmo assim, é muito interessante também observar que as pessoas ao longo da vida que estão dentro podem se adaptar, modificar o seu comportamento e passar a ter maior relação social. Isso é exatamente o que é feito no tratamento desses indivíduos, o tratamento psicoterapêutico. Contudo, se existe isolamento social persistente e isso pode ser sim também um fator de risco para transtornos demenciais, sabe-se que o isolamento social realmente aumenta o risco de demência. Tanto é que nesses últimos anos de pandemia, houve um aumento dos diagnósticos de demência.
Além dessa observação, a psiquiatra considera que a bagagem de vida é muito interessante. Isso não é muito diferente das outras pessoas no aspecto geral, porque isso tudo depende do tanto que foi investido em autoconhecimento. Na acepção de Mol, há pessoas no espectro que desenvolveram inúmeras ferramentas para lidar com as próprias dificuldades, Por isso, têm um alto conhecimento muito significativo. Quer dizer, são pessoas que perceberam que apresentavam déficit desde cedo. Tinham, por exemplo, dificuldade na compreensão das regras sociais. Ou a própria questão de alguns comportamentos repetitivos. Assim, eles percebiam que tinham essas questões, porém foram desenvolvendo estratégias para lidar melhor com isso. Então, Mol observa que tem muitas pessoas que estão mais abertas aos próprios sentimentos. Por isso, esses pacientes têm mais clareza daquilo e conseguem se desenvolver de uma forma mais profunda. Isso, mesmo na idade com mais de 60 anos. Todavia, ela também observa pessoas que não tiveram acesso ao diagnóstico. Ou até não tiveram condições, nem apoio psicológico, ou então até de perceber as próprias limitações. Portanto, intensificaram o isolamento social, assim como as dificuldades no relacionamento. Logo, tornaram-se pessoas com maior nível de solidão pelo medo mesmo dessa interação social.