1 de dezembro de 2019

Tempo de Leitura: 2 minutos

O bicho camaleão possui a capacidade de mudar os pigmentos que dão cores à sua pele para se confundir com o ambiente, podendo ser esta uma estratégia de caça ou defesa. Nós, autistas, também somos camaleões, pois caçamos constantemente a aceitação social imitando o sujeito admirado socialmente (fictício ou não), camuflando dessa forma as nossas dificuldades em defesa de possíveis julgamentos.

A interação social exige uma interpretação de comportamentos não verbais, como expressão facial e corporal, além da necessidade de filtrar os estímulos do próprio ambiente (luzes, barulhos). Nesse contexto, ficamos literalmente perdidos, como se fôssemos cegos, tendo como consequência a tendência de sempre estarmos escondendo a nossa essência, o nosso eu.

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A partir do momento em que buscamos aceitação, inclusão, e compreensão para com nosso jeito atípico, notam-se julgamentos, repreensão e até mesmo exclusão. Dessa forma, somos ‘’obrigados’’ a nos adaptar, como fazem os camaleões.

Este fenômeno do autista camaleão tem como aspecto positivo a suposta camuflagem, passando-se por pessoa neurotípica/comum. Isso proporciona participação ativa, livre de estigmas, sem rótulos, em que o autista é considerado apenas mais uma pessoa “normal”.

Entretanto, nossas dificuldades ficam escondidas por detrás de todo esse desempenho – é como se estivéssemos em um teatro imitando frases e comportamentos que são considerados satisfatórios pelo grupo ao qual queremos pertencer. Tamanho esforço nos ocasiona excessiva sobrecarga, como dores de cabeça, insegurança, baixa autoestima, cansaço físico e emocional, além de crises depressivas.

Autistas não sofrem por serem autistas, e sim por causa dos preconceitos, que muitas vezes ocorrem dentro da própria família, como também em ambientes externos: nas escolas, grupos de estudos, e até em nosso lazer.

Para a nossa autoestima ser restaurada e os efeitos colaterais minimizados, é necessário que os preconceitos sejam quebrados, que as diferenças não sejam percebidas como negativas e sim como oportunidade de aprendizagem com a diversidade.

Desta forma, no lugar de expressões de julgamento devem ocorrer atitudes de acolhimento. Somente assim deixaremos para trás toda a nossa habilidade camaleônica e passaremos a ser nós mesmos. 

Quando nós, autistas, estamos em um ambiente de respeito, a nossa ansiedade é reduzida e conseguimos viver de forma mais leve, tranquila e feliz.

Evite julgamentos, ajude um autista a se orgulhar da sua existência!

Por menos autistas camaleões e por mais autistas orgulhosos!

Josiane Soares tem 22 anos, é mato-grossense, residente no Estado de Goiás, formada em Psicologia pela FAMP, e atualmente pós-graduanda em Avaliação Psicológica na IPOG. Gosta muito de estudar e está escrevendo seu pré-projeto de mestrado. É associada à Abraça – Associação Brasileira para Ação por Direitos das Pessoas com Autismo – e faz parte da administração da Liga dos Autistas com a função de promover campanhas de conscientização e iniciações científicas. 

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