1 de setembro de 2019

Tempo de Leitura: 4 minutos

Sabe aquela sensação de confirmar a impressão positiva que você tem de algo? Assim acontece ao conhecermos por dentro os Estúdios Mauricio de Sousa — ou Mauricio de Sousa Produções (MSP), seu nome oficial. Não é só nos gibis da Turma da Mônica que há diversidade e aquela inclusão desejada por todos num mundo ideal.

Empatia talvez seja a palavra precisa para definir esse que é o maior estúdio de histórias em quadrinhos da América Latina, um dos maiores do mundo, responsável por mais de 80% das vendas de gibis só no Brasil.

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Com mais de 400 personagens criados e tendo ultrapassado a impressionante marca de um bilhão de revistas vendidas, cada vez mais vemos personagens com deficiência incluídos nas HQs — Humberto (surdo), Luca (cadeirante), Tati (com síndrome de Down), Dorinha (cega) e, logicamente, o André (autista), entre outros — que só refletem o que transborda dentro da empresa: inclusão e diversidade. Até mesmo geográficas, pois há roteiristas trabalhando remotamente em todas as regiões do país, para não deixar as histórias só com “cara” de eixo Rio — São Paulo.

“Um dos mais criativos roteiristas que já tive é Asperger [ou autista de alto funcionamento]. Depois que saiu daqui, foi trabalhar com a Xuxa e hoje vive em Natal (RN). Ele é extremamente criativo!”, relembra Mauricio, que tem um carinho especial pelos autistas.

Autismo

E essa história começou lá atrás… Em 2001, o Instituto Mauricio de Sousa foi convidado por uma representante da Universidade de Harvard, para desenvolver um projeto com o objetivo de alertar a população sobre os sintomas do Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). Após meses de estudos nasceu André, um personagem autista, para fazer parte da Turma da Mônica. Em 2003, foi publicado um gibi institucional só do André: “Um amiguinho diferente” — em parceria com a AMA (Associação de Amigos do Autista), de São Paulo.

Em 2019, o André voltou a ter destaque com a parceria com esta Revista Autismo, publicando em toda edição uma HQ exclusiva. Neste ano também, pela primeira vez, a Turma da Mônica fez uma tirinha para o Dia Mundial de Conscientização do Autismo (2 de abril), publicada nas redes sociais da Turminha, para seus milhões de fãs, além de ter atualizado e relançado seis vídeos do André sobre os sinais de autismo.

Mas nada substitui o contato pessoal, físico. Em junho último, o pai da Turma da Mônica — uma das marcas mais admiradas no país, quase um patrimônio nacional — convidou um grupo de fãs autistas para uma visita a seus estúdios, um dia exclusivo para eles. E foi só alegria!

Mauricio pessoalmente recebeu os fãs e ficou conversando com as famílias o tempo todo, queria saber tudo sobre cada criança, cada adolescente que estava lá. Rapidamente passou a ser o “tio Mauricio” — hoje com 83 anos —, que respondeu às mais diversas perguntas dos fãs autistas. Pérolas como “Por que o Cebolinha nunca foi preso\por roubar o Sansão da Mônica?” ou “Por que o Cascão não toma banho?”. E todas foram, com toda paciência, respondidas, uma a uma, pelo criador da Turminha.

Fãs no espectro

“Ele é muito visual e desde os 5 anos se interessa pelos personagens da Turma da Mônica. Já fomos, inclusive, quatro vezes ao Parque da Mônica, pois ele ama ver os personagens”, explica Regina Santos, da cidade de São Paulo, sobre o filho Yago, de 12 anos, diagnosticado com autismo aos 3.

Com 8 anos de idade, vindo de Caieiras (SP), Arthur era só sorriso na foto ao lado da Mônica. “Com 3 anos, a Turma da Mônica era a única coisa que fazia ele se acalmar”, conta Elaine de Assis, mãe do Arthur, diagnosticado com autismo aos 2 anos 4 meses. O pai, Luciano de Assis, lembra que Arthur começou a falar aos 5 anos.

Pedro, de 8 anos, e seus pais, Luciene Peçanha Fonseca e Claudinei Fonseca, foram outra família a visitar os estúdios. Apesar de terem perdido tudo devido a um incêndio em sua casa poucos dias antes,  viajaram de Mogi-Guaçu (SP) para realizar o sonho de Pedro: conhecer Mauricio de Sousa. “O Pedro está desenvolvendo a leitura agora, no terceiro ano, com os gibis da Turma”, explicou a Luciene, que criou em sua cidade  um espaço público dedicado aos autistas, o “Cantinho das Crianças”.

Lívia, adolescente de 14 anos, ficou sem palavras quando Mauricio entrou na sala. “Ela é apaixonada pela Turma da Mônica e o ‘personagem’ que ela mais gosta é o Mauricio de Sousa”, revelou a mãe, Claudia de Sá, em meio a risadas. “Ela tem caixas de gibis, mas ninguém pode mexer, só ela põe a mão”, descreveu a mãe, que mora em Pirituba, na capital paulista.

Outro adolescente que esteve no encontro (mas preferiu não se identificar) tem uma história interessante: vestiu-se a infância toda de Chico Bento e só atendia se chamado pelo nome do personagem. Morador de São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, é fã número um do Chico e até hoje, sempre que pode, visita o estúdio. Mauricio já o recebeu inúmeras vezes por lá, desde o primeiro encontro em 2012.

Gabriel é mais um fã da Turminha. Saiu de Ribeirão Preto (SP), onde mora, para a visita. Sua mãe, Samira Marquezin Fonseca, conta que ele começou a interagir mais com o filho usando as onomatopeias dos gibis da Turma da Mônica. “Ele ficava horas nos gibis. Isso desde os 2 anos de idade. Eu dei todo tipo de livro e gibis para ele, mas ele que escolheu esse interesse restrito nos gibis da Turma”, narrou a mãe, contando ainda que Gabriel sabe todas as datas e números que envolvem a história dos personagens de Mauricio de Sousa.

O tour pelo estúdio foi um dos pontos altos da visita, quando todos puderam ver cada passo do processo de criação de uma história em quadrinhos e de filmes de animação da Turma da Mônica. Mas nada bate o encontro com os personagens “reais” para fotos — o ápice do dia. Abraços, uns mais apertados, outros mais de longe, tentativas de roubar o Sansão das mãos da Mônica, perguntas para os personagens e muitas, mas muitas, fotos e selfies.

André nas bancas

Para completar a “festa autista” na Turma da Mônica, quem apareceu na capa do gibi de julho nas bancas? Sim, o André! E em três idiomas: português, espanhol e inglês! É possível ler algumas páginas da HQ com o personagem André no site da Revista Autismo (RevistaAutismo.com.br). A história completa está na revista Turma da Mônica número 51, nas bancas.

“A participação cada vez maior do André nas histórias da Turminha é importante para mostrar para a criançada, de um jeito lúdico, como todos ganham ao conviver com as diferenças. Além disso, temos muitos fãs dentro do Transtorno do Espectro do Autismo e queremos que eles se sintam representados”, disse o desenhista Mauricio de Sousa.

É empatia que fala, né?

Francisco Paiva Junior participou da visita dos autistas à Mauricio de Sousa Produções, em 3.jun.2019, a convite de Mauricio de Sousa.

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Editor-chefe da Revista Autismo, jornalista, empreendedor.

Editorial — Revista Autismo nº 6

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