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Ao longo das últimas duas décadas, com o aumento do número de bebês e crianças diagnosticadas com TEA, há uma enorme necessidade de intervenções eficazes e adequadas para os indivíduos e suas famílias.
Nesse sentido, convém lembrar que nenhuma pessoa com TEA apresenta os mesmos comportamentos ou conjunto de sintomas. Diante da heterogeneidade clínica e da evolução do TEA o primeiro passo para uma intervenção é um diagnóstico que direcione as orientações e ações e, para isso, o trabalho em conjunto com a equipe multiprofissional é essencial. Assim, indica-se avaliar a cognição, com objetivo de investigar o repertório intelectual e vias de acesso de aprendizagem, avaliar a alteração sensorial, motora, genética, regulação das emoções e temperamento.
Na fase adulta, são relatadas dificuldades para:
- Demandas não acadêmicas da vida universitária
- Administração do tempo
- Organização, tarefas da vida diária e demandas sociais, com embaraço na habilidade de rastrear múltiplos alvos ao mesmo tempo e na destreza para esportes em grupo.
O padrão dos resultados de avaliações em adultos e idosos com TEA são falhas da atenção sustentada, memória de trabalho, fluência verbal, capacidade diminuída da atenção visual seletiva e atenção dividida, com dificuldade no entendimento de situações sociais complexas e interações interpessoais.
O tratamento é individualizado, baseado em evidência.
Em bebês é indicado o treino parental, estimulação do sistema sensório-motor, uso simbólico de objetos, atos comunicativos intencionais não verbais e brincadeiras recíprocas com parceiros sociais.
Em crianças com idade pré-escolar, é indicado estimular níveis mais altos de autonomia, aprendizado, pensamento simbólico e comunicação. As intervenções e estimulações devem se concentrar em ambientes naturais de aprendizagem.
Com o adulto, o tratamento baseado em evidência é a Terapia Cognitiva Comportamental, com foco no treinamento de habilidades sociais, orientação de pares, assistência, aconselhamento acadêmico e profissional, destacando-se a importância da tutoria. Farmacoterapia deve ser oferecida quando existir um sintoma alvo específico ou comorbidade.
Número maior de autistas adultos independentes
A detecção precoce e práticas eficazes baseadas em evidências estão gradualmente melhorando os resultados para as pessoas com TEA. Um número cada vez maior está indo para a faculdade, tornando-se independente e se casando, mas com a necessidade de apoio parcial.
Os primeiros estudos apontavam 10% com independência. Os estudos recentes apontam 20% das pessoas com TEA com mais independência (universidade/emprego competitivo), considerando ainda que a prevalência dos que necessitavam de cuidados a tempo inteiro (serviços do dia de adulto) foi atenuada para 56%.
Muitas das melhorias nos resultados de adultos são atribuídas à implementação de atividades sociais, educacionais e comportamentais específicas. Melhorias no resultado geral do adulto continuam a refletir um prognóstico altamente variável. Possíveis explicações incluem falhas na adaptação de tratamentos efetivos para populações adultas e escassez de intervenções focadas na transição para a vida adulta.
Os sintomas de ansiedade e depressão são comumente relatados por adultos diagnosticados com um transtorno do espectro do autismo (TEA), e sua presença pode exacerbar os principais sintomas do autismo e diminuir a qualidade de vida.
Cerca de 37% a 46% dos adultos que receberam um diagnóstico de TEA na idade adulta relataram, em estudos, sintomas que refletiam ansiedade ou depressão moderada ou grave. A gravidade do autismo e o número de adultos que relataram sintomas de ansiedade graves estavam aumentados no grupo adulto diagnosticado, levando à redução da comunicação, retraimento social e aumento da agitação psicomotora, comportamento estereotipado e obsessivo. Os resultados mostraram que os diagnósticos atuais de ansiedade e depressão foram elevados em adultos diagnosticados com TEA.
Os resultados de transição para a vida adulta apontam incerteza sobre o futuro, falta de serviços abrangentes, ou integrados, necessidade da tutoria na adaptação nos ambientes de trabalho e estudo. Os apoios devem ser individualizados e focados nos aspectos de mudança do ambiente social e físico do jovem adulto. É relatado um maior risco de estresse, impacto negativo na autoestima, exaustão e dificuldade de autorrelato.
Pesquisas se concentram no empoderamento de indivíduos com autismo, desenvolvimento das habilidades empáticas em adultos para aumentar sua compreensão sócio-cognitiva, utilizando dramatização, vídeo e discussão. Um número cada vez maior está indo para a faculdade, tornando-se independente e se casando, mas ainda com a necessidade de apoio parcial.
A detecção precoce e práticas eficazes baseadas em evidências estão gradualmente melhorando os resultados para as pessoas com TEA. É importante conhecer para potencializar as habilidades, baseado em seus interesses, para compensar as áreas de maior dificuldade e aplicá-las na sua capacitação educacional e profissional, visando uma vida produtiva dentro de suas peculiaridades com mais independência e qualidade de vida.
Lacunas nas políticas públicas
São necessárias políticas públicas e investimento no tratamento. Um estudo apontou uma parcela significativa desta população, segundo levantamento nacional, sendo assistida por associações de pais (69%). O mesmo estudo, identificou 650 instituições/serviços em todas as regiões brasileiras, para uma demanda, aproximada, de dois milhões de indivíduos com TEA. O maior número de organizações localiza-se na região Sudeste, seguida pela região Sul; sendo 431 instituições no Estado de São Paulo, 35 no Estado do Rio de Janeiro e 24 em Minas Gerais. Na região Sul, destaca-se o Estado do Rio Grande do Sul, onde foram identificados 39 locais de assistência.
A verificação também demonstra que a maior parte dos atendimentos (33,6%) é oferecida por Associações de Pais Amigos dos Excepcionais – APAE, com suporte para pessoas com autismo e outras deficiências, seguida pelos serviços públicos e gratuitos CAPSI (30,9%). Destaca-se também a cobertura de 28,3% realizada pelas Organizações Não Governamentais. As Associações de Amigos dos Autistas (AMA) são unidades pioneiras no atendimento especializado aos autistas do Brasil e, atualmente, recebem 7% desta população. Ainda que seja oferecida assistência às diversas faixas etárias, verifica-se um claro predomínio do atendimento à infância e adolescência, sendo escassas as instituições com foco de atenção voltada para jovens e adultos e que concedam suporte para as famílias.
Há grande variação nas abordagens adotadas pelas equipes. Não há métodos adequadamente padronizados. A forma de serviço mais frequente, segundo o levantamento, envolve atendimento multiprofissional (fonoaudiólogos, terapeuta ocupacional e psicoterapia). Em seguida, 16% das instituições fazem intervenção com métodos baseados na teoria comportamental – TEACCH, por exemplo – e 11,8% grupos com pacientes e famílias em psicoeducação. Observa-se que apenas 8,8% realizam a intervenção em Applied Behavior Analysis (ABA), método baseado em evidência no tratamento em TEA. Os serviços não utilizam métodos de avaliação como formas objetivas de planejar e avaliar a eficácia das estratégias empregadas na intervenção TEA, bem como de substituí-las pelas necessidades de cada paciente. Tratamento baseado em consulta médica isoladamente, oficinas e Son-Rise também foram relatados.
Com as associações de pais, o conhecimento da população e dos pais, a capacitação dos profissionais e familiares, o país está caminhando para a identificação e intervenção, mas temos muitas crianças, adolescentes e adultos sem diagnóstico e tratamento; muito ainda falta em políticas públicas, locais de atendimento com abordagem de evidência científica, acompanhamento da efetividade das intervenções e oportunidades na área de educação e trabalho.
CONTEÚDO EXTRA
Bibliografia
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Portolese, J.; Bordini, D.; Lowenthal, R.; Zacchi, E.; Paula, C. S.. Mapeamento dos serviços que prestam atendimento a pessoas com Transtorno do Espectro Autista no Brasil. Cadernos de Pós Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento (online), v. 17, p. 79, 2017.