12 de janeiro de 2023

Tempo de Leitura: 2 minutos

Difícil escolher um tema de início de ano.

Podemos falar da recuperação da nossa Secretaria Estadual da Pessoa com Deficiência; uma vitória da mobilização da sociedade civil, de instituições, familiares e profissionais da saúde. Não há ganho sem luta. Podemos falar da segunda recuperação, dessa vez do governo federal, da diretoria de políticas para surdos. Ou ainda sobre a celebrada assinatura do presidente Lula no dia 1 de janeiro vetando a Lei 10.502 que segregava alunos com deficiência em escola regular. O decreto dava brechas às escolas para negarem matrículas de crianças e jovens com deficiência.

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Porém, a ausência de diálogo, aceitação, compreensão e empatia para autistas, é sempre um tópico que julgo de extrema importância. Nenhuma dessas vitórias merece ser comemorada se não houver diálogo. Então decidi falar de suicídio e responsabilidade social.

Amy Lee tinha 17 anos e era autista. Ela resolveu parar com sua dor para sempre. Qual é nosso papel enquanto sociedade na vida íntima de uma jovem que comete suicídio?

Somos o pano de fundo dessa tragédia. Somos aqueles que queremos tudo no lugar certo, emitindo nossas opiniões ofensivas e violentas, apenas porque é nosso direito dizer o que pensamos.  Não aceitamos as diferenças, jugamos comportamentos que não compreendemos e exigimos que o outro não se ofenda porque estamos apenas ‘querendo ajudar’.

Tudo é bobagem quando alguém diz estar sofrendo por não se encaixar; tudo é bobagem e mimimi quando pedem respeito; tudo é bobagem quando um jovem nos diz: eu não consigo.

Até quando vamos ficar nesse movimento do ‘deixa disso’ e não encarar as necessidades dos outros como reais? A vida do outro não se constrói partindo dos nossos desejos ou opiniões. Somos seres em convivência e já passou da hora de aprendermos a ouvir, nos colocarmos no lugar do outro e sermos solidários.

Para os fãs de redes sociais, não faltam exemplos de vidas diversas. Mães que relatam a vida com seus filhos com deficiência e, diga-se de passagem, que também recebem ‘opiniões’ sobre como levam suas vidas. Opiniões que revelam pessoas higienistas e que, claramente, se incomodam de viver em um mundo de diversidade.

Para mim, as pessoas deixaram de ouvir. Não querem mais saber da dor do outro. Seus umbigos são sua principal atração e, ai de quem não os admirar também. Não querem mais mimimi, nem mesmo dos próprios filhos. Terceirização é a resposta. Nunca psicólogos foram tão procurados para serem mediadores de conversas triviais. O cenário que se apresenta é de uma família em frangalhos; o resultado: não sabem mais conversar, dizer o que pensam e como se sentem. E, cada membro dessas famílias, são parte de nossa sociedade que vai deixando de ouvir e de se comunicar.

Atenção que aqui mora uma questão de suma importância: diálogo difere de conversa. Diálogo pressupõe escuta; uma escuta que impede a resposta pronta e que devolve ao emissor, uma mensagem modificada pelo que ouviu. Amy, aparentemente, não teve escuta. Nem de seus pares, professores ou da sociedade que, possivelmente, apenas repetiram frases prontas diante de sua dor.

Para 2023: MAIS DIÁLOGO, por favor.

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É psicóloga clínica, terapeuta de família, diretora do Centro de Convivência Movimento – local de atendimento para autistas –, autora de vários artigos e capítulos de livros, membro do GT de TEA da SMPD de São Paulo e membro do Eu me Protejo (Prêmio Neide Castanha de Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes 2020, na categoria Produção de Conhecimento).

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