19 de fevereiro de 2023

Tempo de Leitura: 2 minutos

A saúde mental é um conceito amplamente discutido, definido pela OMS como “um estado de bem-estar em que o indivíduo está ciente de suas próprias habilidades,
pode enfrentar as tensões normais da vida, trabalhar de forma produtiva e frutífera e é capaz de contribuir com a sua comunidade”. Ou seja, pode-se dizer que possuir uma boa saúde mental é muito mais do que apenas a ausência de diagnósticos.

Dentre os mais discutidos problemas de saúde mental, destacam-se a depressão e ansiedade. Segundo dados recentes da OMS, o Brasil se enquadra como o país da
América Latina com maior prevalência de depressão. No mundo, são mais de 300 mil pessoas enfrentando o problema: os diagnósticos de depressão subiram de 9,6% antes da pandemia para 13,5% em 2022. No entanto, esses são dados gerais da população.

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A pergunta que surge, é: como está a saúde mental das pessoas autistas? Essas pessoas estão recebendo o apoio necessário?

As pessoas autistas, em sua idade adulta, convivem com expectativas sociais discrepantes que causam extremo estresse. O masking é um fenômeno comum causador de extremo estresse e sobrecarga cognitiva, sendo um fator de risco para o desenvolvimento de psicopatologias. Outro fato importante é que, embora muitas
crianças e adolescentes dentro do espectro recebam intervenções precoces – especialmente no contexto educacional -, nem todos alcançam independência em áreas importantes da vida adulta como por exemplo no trabalho, na vida familiar e comunitária. Visto a importância do tema, um estudo foi realizado com o objetivo de
verificar indicadores de saúde mental e de qualidade de vida em adultos autistas.

Trata-se de um projeto de Iniciação Científica, realizado em 2021. Participaram dessa pesquisa 39 pessoas com faixa etária entre 18 a 55 anos (sendo 53,8% do sexo
feminino). Os participantes responderam a um questionário padronizado, que busca identificar problemas emocionais/comportamentais investigando áreas como
educação, trabalho e relações sociais (amigos, família, companheiro/a) – esferas extremamente significativas quando falamos em saúde mental. Também perguntamos a respeito de apoios, intervenções e adaptações recebidas (ou não) ao longo da vida.

Como resultado, foi descoberto um elevado comprometimento emocional no grupo: os dados mostraram uma escassez de intervenções (psicoterápicas, educacionais e médicas) recebidas na infância e, principalmente, a descontinuidade das mesmas na vida adulta. Na infância, poucos participantes tiveram suporte no contexto escolar: apenas 5,12% receberam atendimento educacional especializado. Já na idade adulta tivemos maiores níveis de suporte no contexto acadêmico, com adaptações no ensino superior (17,94%), contudo, ainda em percentual baixo.

Segundo a literatura, a manutenção da saúde mental de pessoas autistas na vida adulta dependerá do acesso, desde a infância, a orientações, adaptações, acomodações e intervenções escolares adequadas, bem como apoios e serviços de saúde mental baseados em evidências científicas. Outro fator comprovadamente
protetivo é a empregabilidade; essencial para a criação e manutenção de vínculos sociais e, consequentemente, da rede de apoio. Programas de inclusão no contexto
laboral são essenciais para garantir a inclusão social e bons indicadores de saúde mental durante a vida adulta. Dessa forma, precisamos incentivar a discussão sobre
o tema, que infelizmente ainda é pouco abordado. Para os profissionais que trabalham com o TEA, pensar em intervenções de qualidade, inclusão e assistência
torna-se um compromisso ético e de promoção de saúde.

Por Daiane Lourenço

Especialista em Desenvolvimento Profissional e psicóloga

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