Tempo de Leitura: 2 minutos
O texto hoje é um convite à reflexão. Será em primeira pessoa porque é uma percepção minha, mas que tem por intuito chamar a atenção para algo que penso ser um retrocesso, mesmo que não seja por má intenção de quem o faz ou de quem aplaude. Penso apenas que ainda é preciso compreendermos bem o real significado da inclusão.
Como base para minhas colocações, vou fazer uso de notícias recentes que foram amplamente divulgadas na comunidade do autismo e que celebradas por muitos. A primeira se refere a um parque aquático que aposta em espaço exclusivo para autistas. A outra relata que uma empresa de transporte coletivo lançou um ônibus exclusivo para autistas. Pois bem, vamos às reflexões!
O que eu, como autista, quero? Ver e usufruir do mundo. O que quero para meu filho autista ou para nossas crianças autistas? Que vejam e participem do mundo.
O mundo abrange todos, e incluir é acolher todos bem. Às vezes, precisamos, enquanto pessoas autistas, de um tempinho? Sim! Aí precisamos talvez de um espaço mais calmo para que possamos nos regular e voltemos para o mundo real.
Mas não precisamos de um espaço só para nós. Precisamos de espaços onde o todo nos comporte. Porque vivemos no mundo real, o mundo de todos e não no nosso mundinho. E se eu fui ao parque e não estive com todos, então não conheci o parque. Seguindo essa linha de raciocínio, não tem como pensar na escola só do autista, no shopping só do autista, na rua só do autista…
Quando a pessoa autista cresce e chega ao mundo de todos, não vai ter a empresa só do autista para que possa trabalhar. Não tem a universidade só do autista. Se tudo fosse assim separado, não teria aprendido a conviver com as diferenças, e as pessoas não teriam aprendido a conviver comigo.
A falsa bolha de proteção acaba e eu não conheci o mundo verdadeiro que, às vezes, é barulhento, mau, tem coisas belas que, na primeira vez, talvez eu não tenha conseguido aproveitar. Todavia, depois fui aprendendo porque fui exposto ao mundo e tive apoio e acessibilidade nesse processo.
Quero que meu filho esteja e consiga estar com todos! Espero que ele consiga aproveitar todas as coisas que o viver pode lhe proporcionar. Espero acessibilidade para suas dificuldades sem esquecer que acessibilidade é participação e não segregação.
Nunca a manchete poderia ser um parque ou um ônibus EXCLUSIVO para autistas. Lindo seria ler na notícia que temos locais INCLUSIVOS para autistas. É mais fácil segregar do que treinar toda uma equipe para ser inclusiva. Separar um local e treinar alguns é mais simples do que treinar todos para serem inclusivos. A fase de segregação teve seu momento histórico, contudo já passou. Não podemos andar para trás e naturalizarmos isso como se fosse algo bom.
Pegamos ônibus para nos locomovermos, vamos ao parque para nos divertirmos e não para recebermos intervenções clínicas. A clinicalização de ambientes não clínicos também é algo que me assusta, no entanto isso é um papo para outra reflexão que deixo para uma próxima. Por enquanto, fiquemos por aqui imaginando que não podemos mirar na inclusão e acertar na segregação. Um abraço a todos e todas e até breve com outras colocações para nos fazerem pensar que caminho queremos trilhar na busca pela inclusão em nossa sociedade.
Por Fábio Cordeiro
Presidente da ONDA-Autismos