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A Casa dos Sentidos, em sua segunda versão, começa a trazer para a população em geral os seus primeiros resultados, a partir da Casa Pocket, ou seja, uma versão resumida do projeto principal, em algumas cidades do Brasil, nos estados de São Paulo, Paraná e Goiás.
Com o seu foco na expressividade das crianças neurotípicas e atípicas com diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA), a produção artística organizada pela Guanabara e pela Montenegro Produções partiu da inspiração do que as crianças revelaram em Oficinas temáticas associadas aos espaços da casa, sendo o quarto, a sala de jantar e a cozinha os aposentos elencados nessa versão, associando a coleta de dados com o auxílio de pesquisa qualitativa associada às artes.
Por meio das manifestações criativas aguçando os sentidos, o prazer criativo de fazer e produzir e as memórias afetivas, as experiências e sensibilidade dessas crianças foram expressos na visão dos artistas nessa Casa Pocket, proporcionando o acesso da população em geral e o envolvimento desta a favor de uma cultura inclusiva, sustentada por resultados científicos a partir dos dados coletados e coordenados pela pesquisadora responsável, mestre Jocian Machado Bueno, os quais iniciaram com as oficinas artísticas, e aproximando a arte e a inclusão.
Como alguns resultados das oficinas, que culminaram com a Casa dos Sentidos 2, temos na cozinha, a representação do imaginário da criança com TEA de alto desempenho, expresso pelo artista Bruno Romã, que olha para a água que escoa da torneira da pia e imagina o sentido inverso da água que sobe e jorra do ralo… ou mesmo vê sua dificuldade de processar a desorganização de uma pilha de pratos e louças sujas empilhadas, expressando a relação com suas questões sensoriais visuais e cinestésicas afloradas. Também a expressão do que pode estar contido nas caixas de mantimentos expostas nas prateleiras da cozinha, com seus significantes literais: a caixa de alimentos intitulada “estados cozidos”, representando cada região e estado e suas peculiaridades alimentícias, a embalagem com o rótulo comidinha de gato e mesmo o recipiente com o título criativo a “barata atômica”, representando os alimentos estranhos que lhes são apresentados como saudáveis, mas que são rechaçados devido à seletividade alimentar que muitos possuem.
Na Sala de Jantar a estética e a exatidão das funções de cada elemento, quando as cadeiras ao contrário, bem representadas pela artista Bruna Alcântara trazem a percepção do pouco valor ao móvel e sua disposição espacial no olhar da criança com TEA. E na mesa da sala de jantar o bule do lanche da tarde, desenhado com a visão literal e no desenho repetido de peixes na louça, como a completar a necessidade de refazer e repetir elementos na busca de regulação de algo que não é compreendido por meio das palavras.
No Quarto a representação do espaço branco e da tranquilidade das acomodações sensoriais expressas pela proprioceptividade do edredom e do simbólico da nuvem, em contradição com as cores marcantes, escolhidas pelas crianças e bem representadas pela artista plástica Marcela Callado no dragão, que remete aos pensamentos não elaborados, imagens e ideias que se mantém fixadas no imaginário das crianças autistas.
Estas linguagens simbólicas, expressas em cada detalhe da exposição, permitem ao público entender mais como a criança com TEA processa, como vê, o que lhe encanta aos olhos e sobre sua sensibilidade aguçada.
A partir de suas manifestações de vozes, sons, desenhos, movimentos, e no seu pulsar vibrante, no contato com o tema Casa e suas representações, memórias e sensações, temos a prévia do que ainda poderá externar novas informações dessas pessoas únicas e interessantes, que tem um enorme potencial e muito a nos apresentar.