1 de junho de 2024

Tempo de Leitura: 2 minutos

Já ouviram aquela frase “tentei fugir de mim, mas onde eu ía, eu estava lá”? Em 18 de junho comemoramos o dia do orgulho autista e por muito tempo, mesmo após o diagnóstico, essa data não fazia muito sentido para mim. Eu me pegava o tempo inteiro tentando decifrar se um comportamento ou uma característica era do autismo ou era da Kamilla. Perdia horas pensando nisso. Se eu chegasse à conclusão que era do autismo, minha reação era repelir, pois se eu fazia aquilo em razão do autismo estava deixando de ser eu mesma. Um pensamento bem confuso que me deixava em uma eterna briga comigo mesma.

Há uns dois anos eu percebi que não existe o autismo e a Kamilla, mas somente a Kamilla autista. Não há como dissociar o meu eu de algo que esteve presente em todas as etapas do meu desenvolvimento físico e mental e provavelmente impresso no meu DNA!

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Matraquinha

Há um poema que eu adoro, de Dulce Maria Loynaz, poeta cubana do início do século passado, com o título que aqui traduzo livremente como “Queira-me Inteira”. No final ela diz, ainda em tradução livre: “Se me queres, não me recortes. Queira-me inteira ou não me queiras”. Eu jamais existirei sem o meu autismo, eu não posso extirpá-lo, não posso me esforçar para eliminá-lo da minha vida. Quando diz que meu autismo é um fardo está falando de mim. Não diga que me ama, e odeia meu autismo. Não somos dois, somos um só.

Eu e meu marido gostamos de cozinhar e quando nos conhecemos fazíamos bastante lasanha. Quando eu estou prestes a comer minhas comidas de conforto eu faço dancinhas de felicidade. Eu me segurava, imagina que seria muita “vergonha” sair dançando do nada na frente das pessoas. Um dia, pensando estar só na cozinha, comecei a fazer a dancinha da lasanha, toda empolgada enquanto ela finalizava no forno. Então vi meu marido atrás de mim observando e paralisei. Pedi desculpas me sentindo uma tola, mas ele não estava me olhando com estranheza. Pelo contrário, ele me disse que a maior alegria dele era me ver tão feliz assim. Hoje eu tenho dancinhas diferentes para cada comida favorita!

O orgulho é o oposto da vergonha. O orgulho é o quentinho no coração, que dá quando a gente consegue ajudar um outro autista, quando descobre que a nossa comunidade está unida e conseguindo evoluir, quando alguém manda uma mensagem dizendo que se inspirou no meu texto, ou que a indicação deu certo. O orgulho também é a liberdade de ser quem a gente é, sem ficar se preocupando se está sendo autista demais ou se o autismo está tirando a nossa personalidade, ou se está sendo um peso para alguém. O orgulho nasce da autoestima de ter a certeza de que merecemos sim ser amados, compreendidos e aceitos. O orgulho autista é lembrado em junho, mas deve ser vivido todos os dias, pois é quem somos e quem sempre seremos. As terapias são para aumentar nossa qualidade de vida, não para nos transformar em imitadores de neurotípicos. Não há dificuldade que deva nos convencer de que não podemos ter orgulho de quem somos! 

Levanta essa cabeça e vai viver, meu etezinho!

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