16 de agosto de 2024

Tempo de Leitura: 2 minutos

Característica muito comum em pessoas autistas e com TDAH, ocorre por diferenças no processamento das emoções pelo nosso cérebro

Há algumas semanas, estava navegando pelo meu feed do Instagram procurando algum conteúdo interessante para consumir na rede social. De repente, encontrei um post com a seguinte frase: “Autistas tendem a ter muito senso de justiça.” Quando cliquei no post, fui direcionado ao perfil de Elizângila Leite, médica e autista.

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Imediatamente, recordei-me de situações na infância em que eu vivia procurando respostas para as coisas, principalmente para entender alguns comportamentos das pessoas, muito antes de descobrir o meu diagnóstico, há quase 14 anos. Por um lado, isso foi positivo, pois demonstrou que, desde cedo, eu sabia trabalhar o meu senso crítico; por outro, gerou um aspecto negativo, já que nem todo mundo entendia minha postura.

Mas, afinal, por que nós, autistas, temos essa característica de senso de justiça? Conforme explicado pela doutora Elizângila em seu perfil, esse comportamento é um reflexo da forma como a nossa área do cérebro responsável por processar as informações, chamada de córtex pré-frontal ventromedial, atua. Essa região é responsável por processar informações, emoções, decisões, e também por julgar o que é certo e errado.

Nas pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), essa área do cérebro é afetada. Soma-se a isso o fato de que essa postura é o reflexo da rigidez cognitiva, uma característica muito comum em nós, autistas, que faz com que tenhamos dificuldade em mudar nossos pensamentos e, assim, interpretar as situações de forma literal, ou seja, ao pé da letra, devido à dificuldade em regular nossas emoções.

Ser autista não significa que você deve levar vantagem sobre as outras pessoas

Ser um autista com senso de justiça não é totalmente ruim. É claro que cada pessoa, seja homem ou mulher, que se encontra no espectro tem um jeito diferente de enxergar tudo o que acontece ao seu redor, assim como julgar aquilo que é certo ou errado, a partir de sua criação. Porém, uma coisa que me incomoda bastante ao longo desse tempo desde o meu diagnóstico é a ausência de compreensão das pessoas em relação ao nosso jeito de pensar sobre o mundo.

Sobretudo porque muitas pessoas já me questionaram sobre por que, mesmo sendo autista, eu não utilizo os meus benefícios para me aposentar ou para receber auxílios governamentais, como o Benefício de Prestação Continuada (BPC) – LOAS, pagos pelo INSS. Isso me deixou extremamente incomodado e aborrecido.

Primeiramente, não tenho nada contra quem é beneficiário desses auxílios governamentais. Sei de vários casos de autistas de níveis de suporte 2 e 3, diagnosticados tardiamente, que não conseguem se sustentar. Mas, se você é um autista ou uma autista de suporte 1 e está apto a trabalhar, por que não estimular o trabalho e a independência, em vez de incentivar a corrupção e a desonestidade?

Ao agir de forma desonesta, prejudica-se o acesso a esses benefícios para quem mais precisa. Portanto, sabemos que temos um longo caminho a percorrer quanto à garantia dos direitos das pessoas autistas, que são fundamentais a qualquer ser humano, seja neurodivergente ou não. Dessa forma, uma sociedade só será acessível quando respeitarmos as diferenças de pensamento e a ética em nossas ações cotidianas.

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