11 de setembro de 2024

Tempo de Leitura: 2 minutos

A noção de lugar de fala, como conceito científico, é algo relevante para pensarmos a produção de conhecimento sobre autismo. O problema é que, em grande parte dos contextos, essa ideia vem sendo distorcida.

Isso não se refere apenas ao ativismo por pessoas autistas. Aliás, é um problema que aflige praticamente todos os temas que envolvam vulnerabilidade e as discussões na Internet.

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O que é lugar de fala?

No livro “O que é lugar de fala?”, Djamila Ribeiro explica que este conceito não se refere à possibilidade de se representar ou não um determinado grupo social. Na verdade, o termo indica que sempre que falamos sobre algo ou alguém, a percepção que compartilhamos é fruto de interações da nossa observação sobre aquele com todo o repertório e bagagem de conhecimento que fazemos conosco. Portanto, quem fala, faz isso de um lugar. Isso é lugar de fala.

Porém, no senso comum, essa ideia vem sendo simplificada e até mesmo distorcida. Ou seja, para muitos leigos e ativistas, lugar de fala se restringe a quem pode falar sobre determinado assunto. Assim, somente um autista poderia entender as vivências de autistas, por exemplo.

O autismo e a produção de conhecimento

Apesar dessa ideia estar muito em voga, ela desconsidera um aspecto básico da representação. Este tema é estudado desde Platão e, a partir de discípulos, ganha diferentes interpretações. Porém, uma coisa é certa: não é preciso passar por algo para comunicar sobre aquilo. Não é preciso, por exemplo, ser um psicopata para escrever sobre psicopatia.

Então, o que devemos levar em conta nas discussões sobre lugar de fala talvez seja o aspecto menos observado nos debates acalorados da Internet. Ou seja, devemos ter consciência de que falamos de um lugar moldado por nossas vivências e percepções gerais, o que limita a nossa percepção sobre outras vivências. Portanto, para falar sobre um assunto, é necessário humildade.

Lugar de fala não é atestado de sabedoria

Em vez disso, vejo muitas pessoas usando o lugar de fala como um meio para invalidar, justamente, o lugar de fala do outro. Isso conduz a uma série de argumentações que raramente tem a ver com o que de fato se discute. Além do que, o conceito de lugar de fala não ê um sinônimo de consciência nem um atestado de que eu sei o que estou falando.

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Jornalista, escritora, apresentadora, pesquisadora, 24 anos, diagnosticada autista aos 11, autora de oito livros, mantém o site O Mundo Autista no portal UAI e o canal do YouTube Mundo Autista.

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