13 de setembro de 2024

Tempo de Leitura: 2 minutos

A vida de uma pessoa diagnosticada tardiamente com Transtorno do Espectro Autista (TEA) não é fácil no Brasil, seja pelo acesso desigual ao diagnóstico ou por ter que lidar com a estrutura capacitista da sociedade brasileira. Quem está no espectro e já possui diagnóstico fechado sabe como não é simples lidar com afirmações como: “Nossa, mas você nem parece autista”, “Seu autismo é levinho, não é?”, ou “Por que adultos autistas não cuidam das crianças autistas?”.

Essas frases, além de capacitistas, têm em comum um único problema: a distorção sobre a noção de autismo por parte da população brasileira. A discussão sobre autismo não é algo novo no país. Desde que fui diagnosticado, há uma década, com a antiga Síndrome de Asperger, já existia algum conhecimento sobre o tema, inicialmente com maior foco nas crianças.

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Em 2013, foi publicada uma nova atualização do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), que trouxe uma reformulação na classificação do autismo. Na versão anterior, o DSM-IV, o autismo era subdividido em diferentes categorias, como Transtorno Autista, Síndrome de Asperger, Transtorno Desintegrativo da Infância e Transtorno Invasivo do Desenvolvimento sem outra especificação (TID-SOE). Com a atualização para o DSM-5, essas categorias foram unificadas sob o termo Transtorno do Espectro Autista (TEA).

Com a nova versão, essas nomenclaturas foram reunidas sob um único termo: Transtorno do Espectro Autista (TEA). Esse transtorno, por sua vez, foi dividido em três níveis de suporte:

  • Nível 1: Necessita de suporte.
  • Nível 2: Necessita de suporte moderado.
  • Nível 3: Necessidade de maior suporte.

Essas classificações foram implantadas com o objetivo de adaptar o atendimento às necessidades de cada autista. Entretanto, a iniciativa, que deveria facilitar o desenvolvimento de novas terapias e o acesso ao suporte médico, acabou gerando um problema: a classificação por níveis de suporte reforçou estereótipos, especialmente entre autistas diagnosticados tardiamente, como é o meu caso.

Embora, em uma década, o acesso à informação tenha se expandido, com o fácil acesso à internet e outros recursos, percebo que a consciência sobre inclusão e acessibilidade ainda não se reflete em atitudes concretas. Com o aumento de adultos diagnosticados tardiamente, há também uma dificuldade crescente em obter suporte terapêutico. As redes de saúde, tanto públicas quanto privadas, em sua maioria, atendem apenas crianças, e, quando há profissionais disponíveis para adultos, o custo é elevado e o atendimento é desigual.

Já mencionei em outras edições desta coluna que o diagnóstico precoce do autismo na infância, junto com a intervenção médica, é fundamental para minimizar os prejuízos na adolescência e na vida adulta. No entanto, é crucial entender que o autismo não desaparece quando a pessoa deixa de ser criança e se torna adulta, o que aumenta as responsabilidades dessa fase da vida.

Portanto, se desejamos cidades mais inclusivas e acessíveis, precisamos, antes de tudo, promover o respeito. Cada autista é único e tem o direito de crescer, levar uma vida normal e ser independente. A busca por privilégios para alguns níveis de suporte em detrimento de outros é, na verdade, uma forma de segregação e capacitismo.

Para avançarmos, precisamos abandonar as vaidades e o individualismo, cobrando, na prática, que os direitos das pessoas autistas sejam realmente cumpridos. Caso contrário, continuaremos estagnados, repetindo os mesmos erros de sempre.

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Jornalista, autista e ativista na luta antirracista.

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