20 de setembro de 2024

Tempo de Leitura: 2 minutos

É preciso que a discussão sobre as necessidades dos autistas seja permanente e não apenas anual, no dia 2 de abril, Dia Mundial de Conscientização do Autismo.

A discussão sobre a inclusão das pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) deve ocorrer ao longo do ano inteiro. Costumo sempre repetir essa frase durante palestras e entrevistas em podcasts nos quais falo sobre meu diagnóstico de autismo.

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ExpoTEA

Mesmo depois de mais de uma década de diagnóstico e de ter observado o aumento da conscientização sobre o tema, bem como a criação de leis que resguardam os direitos das pessoas com autismo e o crescimento do número de diagnósticos, especialmente de adultos, ainda percebo alguns problemas.

Isso fica mais evidente todos os anos no dia 2 de abril – Dia Mundial da Conscientização do Autismo –, data instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2007 por meio da campanha Abril Azul, para destacar a importância da inclusão das pessoas com autismo, o acesso ao diagnóstico e às terapias.

Durante o mês de abril, costumo ver uma programação repleta de palestras, fóruns e conferências organizadas por associações de pais de autistas, além de entidades públicas e privadas.

É consenso que eventos que discutem a inclusão dos autistas são essenciais para construir políticas públicas a longo prazo, levando em consideração as necessidades de cada autista, além de contar com pesquisas acadêmicas desenvolvidas nas universidades.

Mas será que dedicar apenas um mês por ano para falar sobre a inclusão de autistas é uma estratégia eficiente para mudar a mentalidade da população brasileira em relação ao tratamento dado aos autistas? Principalmente porque o aumento do acesso à informação sobre o autismo, nos últimos dez anos, ainda não se traduziu em ações concretas.

A baixa representatividade de autistas em eventos

Outro aspecto que me incomoda durante essa programação do Abril Azul é a pouca, ou até mesmo nenhuma, presença de pessoas autistas nas mesas de discussão desses eventos. Salvo raríssimas exceções, esses espaços são majoritariamente ocupados por especialistas e pais, que utilizam esses locais para obter projeção profissional e midiática, cobrando altos cachês, enquanto os autistas, na maioria das vezes, são convidados gratuitamente.

Além disso, não se leva em consideração as dificuldades que os autistas enfrentam para se deslocar até esses eventos, lidando com diversos estímulos, como sons e cheiros, de acordo com as particularidades de cada um.

Sou favorável à aproximação entre a academia e a sociedade, principalmente para que a ciência possa desmentir informações falsas e apresentar novidades em pesquisas que promovam o bem-estar e a melhoria da qualidade de vida da pessoa autista.

Sei que trazer especialistas renomados confere credibilidade aos eventos e ajuda a mobilizar o público. No entanto, será que não estamos falhando no aspecto da representatividade? Ao trazer pessoas com uma visão tecnicista e ignorar a perspectiva daqueles que sofrem diariamente com o preconceito e a invisibilidade?

Muitas vezes esquecemos que o autista cresce e, ao atingir a fase adulta, enfrenta dificuldades de acesso a terapias no serviço público, ao mercado de trabalho, além de questões de acessibilidade na escola e na faculdade. Segundo o Censo Escolar de 2022, produzido pelo Ministério da Educação, mais de 6.063 pessoas com autismo se matricularam em instituições de ensino superior no Brasil.

Portanto, não basta ter o discurso da inclusão no papel. É preciso que ele se concretize ao longo do ano, considerando diversas perspectivas, para que as ideias se traduzam em ações práticas, nas quais todos ganhem, especialmente as pessoas atípicas.

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