28 de março de 2025

Tempo de Leitura: 3 minutos

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que existam cerca de 70 milhões de pessoas no mundo com Transtorno do Espectro Autista (TEA). O autismo é um transtorno global do desenvolvimento que altera a forma como a pessoa percebe o mundo ao seu redor e afeta mais homens do que mulheres. De acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC), a proporção é de aproximadamente quatro meninos diagnosticados para cada menina.

No entanto, nos últimos anos, graças ao maior acesso à informação e às mudanças nos critérios diagnósticos, tem havido um aumento no número de diagnósticos de autismo em mulheres, especialmente aquelas que se enquadram no nível de suporte 1.

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Nesta semana, a zagueira da Seleção Feminina de Futebol da Inglaterra, Lucy Bronze, de 33 anos, revelou ter sido diagnosticada com autismo e Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) há quatro anos, aos 30 anos de idade. A revelação foi feita durante uma entrevista concedida à jornalista Alex Brotherton, do canal britânico BBC Sport.

Bronze, que atualmente joga pelo Chelsea (ING), conquistou recentemente a Supercopa da Inglaterra pelo clube. Durante a entrevista, ela revelou que, no início da carreira, enfrentou dificuldades para interagir socialmente com suas colegas de equipe. A solução encontrada para superar essas limitações foi o masking, ou seja, imitar o comportamento das companheiras, como a zagueira Jill Scott, sua colega na seleção inglesa.

“Eu assistia à Jill Scott e via como ela falava com as pessoas. Pensei em copiá-la um pouco. Eu sou melhor nisso agora, mas às vezes me sinto um pouco desconfortável.”

O diagnóstico de dislexia durante a infância

Os desafios de Lucy Bronze não se limitaram à prática do futebol. Durante a infância, ela teve dificuldades com leitura e soletração, o que resultou no diagnóstico de dislexia. Na entrevista, a atleta destacou a importância da rede de apoio formada por amigos e familiares para ajudá-la a superar as dificuldades de interação. Inclusive, foi sua mãe quem levantou a hipótese de que ela poderia ser autista.

O diagnóstico veio em 2021, enquanto Lucy treinava com a Seleção Inglesa. No entanto, ela atribui parte de seu sucesso e longevidade no esporte ao hiperfoco no futebol e na prática de exercícios físicos, que foram essenciais nesse processo de descoberta.

“Foi um momento de aprendizado sobre mim mesma. Treinar todos os dias é incrível, manter-me em movimento me ajuda muito.”

Em 2019, Lucy Bronze foi eleita a melhor jogadora do mundo pelo prêmio FIFA The Best, tornando-se a primeira defensora do futebol feminino a receber essa premiação.

A luta pela conscientização

Após revelar seu diagnóstico, Lucy tem usado sua posição para conscientizar as pessoas sobre o autismo em mulheres e a importância da prática esportiva para lidar com as comorbidades associadas ao TEA e ao TDAH. Além disso, tornou-se embaixadora da National Autistic Society, entidade britânica que luta pelos direitos dos autistas no Reino Unido.

Parabenizo a atleta pela coragem de compartilhar sua trajetória. Assim como Anthony Hopkins no cinema e Letícia Sabatella na dramaturgia brasileira, Lucy Bronze se torna uma voz importante para a causa autista. Sua visibilidade pode não apenas incentivar a inclusão, mas também pressionar governos a desenvolver políticas públicas que promovam o estímulo à prática esportiva.

Mais do que representar um avanço para o esporte, histórias como a de Lucy servem de inspiração para que outras garotas e garotos neurodivergentes não desistam de suas carreiras no esporte de alto rendimento. O incentivo ao esporte não deve se limitar a questões estéticas, mas ser visto como um fator essencial para qualidade de vida e bem-estar, algo que a ciência já comprova há tempos.

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