5 de janeiro de 2021

Tempo de Leitura: 2 minutos

Nesta segunda de manhã (4.jan.2021), a Justiça do Reino Unido decidiu a não extradição de Julian Assange para os EUA, e um dos argumentos tem ligação direta com o autismo.

Desde setembro de 2020, a imprensa britânica passou a noticiar que Assange recebeu o diagnóstico de Síndrome de Asperger — uma categoria de diagnóstico em desuso hoje, popularmente conhecida como uma espécie de “autismo leve”.

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Asperger contém, então, duas características centrais do que compreendemos hoje como Transtorno do Espectro do Autismo (TEA): dificuldade de interação social e comunicação, e comportamentos restritos/repetitivos.

Diagnóstico

A avaliação de autismo na vida adulta geralmente concentra relatos familiares, testes de habilidades sociais e uma investigação de características do autismo ainda na infância e uma série de profissionais. É um diagnóstico difícil de ser feito e muitas vezes negligenciado.

No caso de Assange, ele foi descrito como uma pessoa inteligente, com interesse rígido em certos tópicos (o que geralmente chamamos de hiperfoco), dificuldade de gerir conversas e interações, poucas amizades ao longo da vida e muitas atividades solitárias.

Uma descrição bem aprofundada sobre o debate em torno das características (e até mitos) do autismo no tribunal estão na cobertura do caso, feita pelo tabloide britânico Daily Mail.

Traços de autismo

O debate em torno de Assange ser autista não é novo. O próprio Julian Assange disse em 2011 que enxergava traços de autismo em si mesmo e ainda fez uma provocação ao dizer que “todos os hackers” teriam Asperger.

Um lado interessante deste debate é o quanto o autismo dito “leve” sempre foi beneficiado (inclusive culturalmente) pela ideia de sujeitos desajeitados, extremamente inteligentes e de poucos amigos. E isso voltou à tona — aqui tem um artigo de opinião interessante, da escritora australiana Kathy Lette: “I knew Assange was autistic – it explains why people read him unfairly“.

É curioso também observar o quanto o autismo — como um diagnóstico — tem ilustrado casos peculiares de obstrução da Justiça. Recentemente, o hacker preso por atacar sistemas do TSE, de 19 anos, se declarou Asperger.

Por fim, vale reforçar que a nova edição da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde, a CID-11, entra em vigor em 2022. E, a partir de então, o termo “Síndrome de Asperger” pode ser finalmente sepultado — e tudo estará integrado no TEA.

CONTEÚDO EXTRA

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Jornalista, doutorando em Comunicação pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e autor do livro "O que é neurodiversidade?".

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