15 de dezembro de 2020

Tempo de Leitura: 3 minutos

Na coluna desta edição vou ser bem franca com relação a esse novo velho dilema sobre a questão da educação especial versus a educação regular. Vou tentar não ser indelicada ainda que, já vou avisando, não vá sacrificar objetividade em favor de etiqueta.

Primeiro, situando o leitor desavisado, há um grande impasse circulando por aí em relação à possível regulamentação de escolas especiais e o que isso significa ou significaria para todos os esforços de inclusão da pessoa com deficiência que historicamente vêm sendo feitos. Todos tem uma opinião e, seguindo a tendência universal que vivemos hoje, quase todos se ofendem com a opinião que difere da sua, mesmo que apenas nos detalhes.

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Por um lado, há aqueles que comemoram a possibilidade de ter acesso à “escola especial”. Aqui entendo isso como um contexto de ensino especializado e segregado que visa melhor atender às necessidades de pessoas com os mais diversos transtornos de desenvolvimento e comorbidades. Mas note que não estamos até aqui estabelecendo uma relação de dependência entre “especializado” e “segregado[maa1] ”, ou entre “melhor atender” e “segregado” e nem mesmo entre “especializado” e “melhor atender”. Isso dito, o discurso que, em geral, defende a tese da escola especial costuma se basear em algumas premissas que incluem, de forma não explícita, a noção de que um contexto separado é mais favorável à boa educação da pessoa que precisa de alguma sofisticação ou individualização nas estratégias e objetivos de ensino.

Do outro lado, a bandeira da inclusão é carregada, aos gritos de “não ao retrocesso da escola especial”, para defender que as pessoas – todas – devem ser educadas na escola regular, entre seus pares e não de forma segregada. Esse discurso escancara a preocupação com o impacto negativo que a existência de ambientes de ensino segregados poderia trazer a todos, reduzindo ou eliminando todas as conquistas por direitos humanos que ocorreram no Brasil nos últimos 10 anos. Mas, note, aqui também temos um problema, pois um ambiente inclusivo não assegura educação a todos e, portanto, não constitui educação inclusiva.

O problema que esses dois discursos parecem estar negligenciando em suas considerações é: a educação regular, aquela que acontece na sala de aula cheia de gente e com escassez de recursos humanos e materiais, que recebe gestão problemática, seja por ser pública, seja por ser controlada por fundos de investimento, ou simplesmente por ser amadora, essa educação que conhecemos baseada em princípios ultrapassados de ensino e de sociedade não está boa para ninguém! Sejamos francos! Vamos parar de fingir que vai tudo bem na escola do seu filho típico e que seria uma verdadeira benção se todos pudessem frequentá-la! O fato é que deveríamos todos estar correndo das escolas regulares tal e qual! E não implorando pela migalha de uma carteira no fundo da sala! Vejam, isso não é uma crítica ao professor, ou a escolas específicas, não quero de fato entrar nisso. É um apelo por reflexão sobre o sistema, sobre como funcionam o ensino e a escola regular.

O problema que os dois lados estão ignorando é que a escola regular não ensina ninguém, ela apenas seleciona aqueles que aprendem a despeito de suas condições adversas. Nesse sentido, talvez a disputa devesse ser justamente inversa: vamos criar uma escola especial para todos? Podemos falar em incluir todos em um contexto no qual todos possam de fato aprender? Pois, acreditem, quando isso ocorrer, incluir o diferente não será mais problema.

Vamos criar uma escola que possa olhar cada indivíduo como único, que possa dar conta dos perfis de cada um? Que permita que todos encontrem suas formas de “tirar A”?

Finalizo sugerindo que procurem não fazer desse tema mais uma plataforma de briga política. Não há porquê, vocês querem a mesma coisa, mas estão encalhados na retórica.

A escola regular tem que ser especial o suficiente para manter pessoas com suas características únicas dentro dela aprendendo nas condições que são necessárias para aprender. Sem sofrer bullying, negligência ou abuso. Colocar todos dentro de uma sala de aula fazendo as mesmas coisas que os coleguinhas estão fazendo nunca será uma prática inclusiva. Criar escolas separadas para tentar criar a mesma uniformidade dentro do diferente, ainda menos! É um esforço de replicar o erro. Repensem a educação como um todo, juntos.

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Psicóloga, com mestrado em Análise Aplicada do Comportamento pela Northeastern University (EUA), diretora do Grupo Método.

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