3 de setembro de 2021

Tempo de Leitura: 2 minutos

Preciso iniciar esse texto confessando que esse ele não é sobre o passado, é sobre o presente, o passado e talvez seja sobre o futuro.

Eu sempre relato como o processo de reconhecimento do meu autismo foi libertador. Acho que deixei de mencionar, como reconhecer como uma mulher autista preta mudou minha forma de me olhar e de me relacionar.

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Há tanto tempo eu venho lendo e estudando biografias de mulheres negras ativistas e uma das coisas que mais me chama a atenção é como a dor nos une (“dororidade”, segundo Vilma Piedade) e como estamos sozinhas. E como temos culpa! Há culpa de muitas coisas. Culpa de não nos submetermos à posição de submissão, culpa de nos rendermos ao estereótipo de “dar conta de tudo”.

Mas, em mulheres negras neurodivergentes há culpa na forma singular em que nos relacionamos, não correspondemos à validação da mulher negra que o outro sempre impõe sobre nós. Somos fortes, porém sensíveis, somos silenciadas, confundidas e em muitos momentos violadas. Onde cabe tanta culpa? Não nos dão o direito a autistar, rotulam-nos, e como não seguimos os rótulos sobra-nos a solidão, sobram-nos as dores que precisamos carregar sozinhas, porque deixam tudo em nosso colo e sempre vão embora. 

Vivemos uma vida de negações, desvalidações, violências e silenciamento. O racismo é tão presente nos olhares sobre nós, que o naturalizamos como sendo algo nosso. 

É um processo que todas nós passamos e seguiremos passando.

É hora de começar a se enxergar como alguém que, mesmo em suas contradições, tem o direito de existir na sua diversidade. Deixar de lado a culpa por ser diverso e se sentir acolhida nesse processo é urgente! Trata-se de uma operação de dentro pra fora, um processo interior de proteção, para não ser engolida por essa estrutura neuronormativa, capacitista e racista que nos envolve.

O processo é individual, mas não precisa ser solitário. Convido você, mulher negra neurodivergente, a dividir a sua dor e a se curar entre as nossas.  “Paciência com o seu processo”.

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É autista, mãe do Luiz (autista) e da Elisa, professora da Rede Estadual de São Paulo. Ativista pela neurodiversidade e membro da ABRAÇA. Atua nas redes falando sobre a relação entre a luta antirracista e anticapacitista.

Emojis e acessibilidade para pessoas com autismo

O amor e o afeto que deixamos de dar!

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