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Meu filho completou trinta anos. Que susto! Impossível não fazer um retrospecto dessa jornada, às vezes muito difícil, às vezes plena de satisfação, mas sempre amorosa. O início desesperado, incompreensível, solitário e, ato contínuo, partir para a luta, o que quer que isso significasse. Estávamos nos anos 90, nada de internet. Quantas surpresas, quantas dificuldades. Meu filho não dormia, logo, eu também não. Lembro-me do cansaço mortal, das noites em claro. Até que, finalmente, o neurologista receitou o neuleptil gotas pediátrico. Que santo remédio eheh.
E as fases… A fase de bater portas: mas ele batia no sentido oposto ao de fechar, era um tal de porta caída das dobradiças, tínhamos que amarrar todas. A de escalar: Senhor, ele escalou a televisão (de tubo) e caiu de costas, abraçado possessivamente com a TV, ainda bem que havia uma montanha de almofadas no chão. Escalava as estantes de livros, e nós temos muitas aqui em casa. Um dia peguei o meliante no ato… tenho até uma foto! Abrir a torneira do filtro de água e sair de fininho ‒ quando eu percebia a cozinha estava inundada e o filtro vazio!
Imagino que o fato, realmente, é que Pedro era levado demais. Uma vez ele desapareceu dentro do Carrefour, meu Deus, que desespero! Ele estava brincando, pelo que deu para entender.
Depois veio a adolescência e suas questões. Aqui em casa foi uma época tenebrosa. Deixou profundas marcas em todos nós. Até que um anjo em forma de amiga veio e me aconselhou. Aí partimos para modificar nossos comportamentos e disciplinar nossas emoções.
Não foi fácil, mas deu certo. E então começamos a aproveitar: viagens curtas, praia, montanha, andar a cavalo, tirolesa, ir ao cinema e curtir muito. Passear na casa de amigos e parentes. Ir às festas formais, casamentos e outros que tais. Ir às baladas da vida, aniversários de amigos, restaurantes com os amigos. Depois, saltos mais arrojados, viagens maiores, várias horas de avião, muitos museus e praças e trens e barcos. O melhor companheiro de viagem que já vi.
E, assim, resumidamente, vivemos trinta anos de nossas vidas. Nem sempre foi um mar de rosas, mas sobrevivemos, fortes e sempre dispostos a ousar cada vez mais, afinal o autismo não nos define.