1 de março de 2021

Tempo de Leitura: 2 minutos

Não é novidade que a Pixar Animation Studios possui um currículo de respeito. Suas animações produzidas para a tela de cinema já marcaram o clima intelectual e cultural de pelo menos duas gerações ao redor do mundo. Porém, “Toy Story” e outras franquias grandes à parte, o estúdio também marcou por seus curta-metragens e, de alguns anos para cá, tomou corpo a iniciativa de produzir curtas que não se limitassem à exibição obrigatória antes de um de seus longas metragens. 

A partir daí, nasceu o projeto SparkShorts. Nele, funcionários da Pixar recebem um semestre e um orçamento limitado para produzir seu próprio curta. Inicialmente, esses curtas foram publicados no Youtube da empresa, e atualmente são lançados no Disney Plus. O diferencial mais marcante do projeto são os temas mais maduros que costumam ser abordados em cada uma das obras. Alguns exemplos são “Purl”, que trata do machismo estrutural, e “Segredos Mágicos”, que aborda a dificuldade de se assumir homossexual para a família. Por hoje, quero destacar “Flutuar”, cujo tema geral sobre aceitação pode ser facilmente aplicado a diferentes tipos de neurodivergências, e “Fitas”, que focaliza especificamente em TEA.

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Em “Flutuar”, um pai descobre que seu filho consegue levitar, e passa a restringi-lo para não causar uma impressão que ele considera ruim nas pessoas à sua volta. Seu filho fica feliz toda vez que tem a liberdade para poder flutuar, mas o pai coloca pedras em sua mochila, o amarra no chão, e o força a usar roupas que cobrem seu rosto (esse último sendo uma prática não tão incomum entre alguns pais de neurodivergentes). Eventualmente, ele grita com o filho e questiona “Por que você não pode ser normal?”. Após perceber o impacto negativo que causou, ele finalmente deixa o filho livre para voar no parque de diversões, e para de se preocupar com as opiniões externas. O curta foi dirigido e escrito por Bobby Rubio, e é inspirado na sua relação com seu filho autista.

“Fitas”, por outro lado, aborda como alguém totalmente não familiarizado com o autismo pode passar a entendê-lo e a interagir “de acordo”, contando a história de Renee, uma garota autista, com forte dificuldade de comunicação, que é levada para um passeio de barco com seu parceiro de acampamento Marcus. Escrito e dirigido por Erica Milsom, o curta contou com a consultoria da Autistic Self Advocacy Network (ASAN), uma organização sem fins lucrativos composta por e feita para membros da comunidade autista, que garantiram uma extrema autenticidade na personagem de Renee.

Um diferencial muito grande em “Fitas” é, em certos momentos, alternar para o ponto de vista de Renee, e a representação deles é talvez uma das mais fiéis já feitas em um filme. O foco em elementos visuais diferenciados, a linha de pensamento que Renee tem para tomar decisões, a hipersensibilidade sensorial, e a extrema duração de uma crise desencadeada por acidente, são elementos com que familiares de pessoas com autismo estarão perfeitamente familiarizados. Por outro lado, são uma ótima fonte didática para aqueles que não convivem com tais situações no seu dia-a-dia. Podemos esperar que os próximos SparkShorts a serem lançados continuem abordando temas importantes variados, com o tato e a atenção que merecem receber.

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É videomaker, fotógrafo e editor, graduado em Cinema, Rádio e TV e irmão de Rafael, autista adulto.

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