1 de dezembro de 2021

Tempo de Leitura: 3 minutos

A Comunicação Aumentativa ou Suplementar Alternativa (CAA ou CSA) é a área de prática clínica que dá suporte às necessidades complexas de comunicação (NCC), caracterizadas por comprometimento temporário ou permanente da produção e/ou compreensão da fala e da linguagem. Essa definição é dada pela American Speech-Language-Hearing Association-ASHA (Associação Americana de Fala, Linguagem e Audição) e resume bem como podemos dar suporte ao desenvolvimento de linguagem de pessoas dentro do transtorno do espectro do autismo. 

Além de ser um direito humano, a comunicação eficiente é fundamental para o desenvolvimento do indivíduo em todos os aspectos. 

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Nesse sentido, temos relatos de pessoas dentro do espectro que não desenvolveram fala, desenvolveram tardiamente ou têm uma fala que não dá conta de todas as necessidades de comunicação, que vão muito além de conseguir pedir um item desejado. Comunicamo-nos, sim, para ter nossas necessidades atendidas e nossos desejos considerados, mas também para estabelecer proximidade social, relatar fatos, demonstrar o que sabemos e esclarecer o que não sabemos, enfim, são muitos os motivos pelos quais nós nos comunicamos.

Embora a intervenção com CSA seja baseada em evidências, ainda existem muitos mitos acerca do uso de recursos alternativos de comunicação, o que acaba atrasando esse tipo de intervenção e prejudicando o desenvolvimento das pessoas com NCC.
Elegi aqui os sete mitos mais citados ainda hoje: 

1- “Ele ainda é muito novo para esse tipo de intervenção”.  

– Todos nós recebemos estimulação de linguagem muito precocemente nas nossas vidas, então, por que uma pessoa que tem uma necessidade complexa de comunicação teria uma idade mínima para iniciar sua estimulação auxiliada por símbolos?

2- “Se usarmos comunicação alternativa, ele vai ficar preguiçoso e não vai falar” ou “o uso de símbolos vai impedir o desenvolvimento da fala”.

– Existem evidências científicas de que a CSA estimula o desenvolvimento das funções comunicativas, o vocabulário, a construção de sentenças e até a fala.

3- “Primeiro precisamos melhorar o comportamento para depois iniciarmos com CSA”.

– Não existe nenhum pré-requisito para implementação de CSA, seja de ordem motora, sensorial, cognitiva ou comportamental. Aliás, é muito frequente que a pessoa utilize um comportamento inapropriado socialmente como forma de se comunicar. Ensinar uma modalidade de comunicação alternativa só vai ajudar na melhora das questões comportamentais relacionadas a uma comunicação ineficiente.

4- “CSA é o último recurso na intervenção da fala e linguagem das crianças”.

– CSA deve ser usada para prevenir falhas no desenvolvimento da comunicação ANTES que isso aconteça. Crianças com NCC estão em risco, pois a literatura relata desamparo aprendido, passividades, co-dependência e falta de iniciativa em função das experiências repetidas de falha ao tentar comunicar suas mensagens.

5- “Só ‘autistas não verbais’ precisam de CAA”. 

– Em momentos de estresse, por exemplo, pessoas com autismo que se comunicam no cotidiano com fala, muitas vezes não conseguem se comunicar efetivamente. Além disso, é preciso diferenciar fala de comunicação efetiva e funcional; existem ainda as pessoas que conseguem articular as palavras, mas não se comunicam com elas efetivamente.

6- “Só é útil para crianças muito novas”.

– Quanto mais cedo melhor, mas nunca é tarde demais. Temos relatos de autistas adultos que, embora tenham desenvolvido fala, encontraram na CSA uma forma de expressar assuntos de maior complexidade, ou em situações de muita tensão, por exemplo.

7- “As crianças devem passar por uma hierarquia de aprendizado de como os símbolos representam o significado, começando com objetos e progredindo para palavras escritas”

– Nós não somos expostos a uma hierarquia de estímulos relacionados à comunicação oral. Desde muito cedo recebemos modelos de fala a todo momento e com o desenvolvimento de habilidades sensoriais e motoras passamos a reproduzir os modelos aos quais somos expostos. Da mesma forma, pessoas com NCC, precisam receber modelos que elas possam reproduzir. Precisamos, portanto, usar o recurso de CSA apoiando a nossa fala como forma de estimular seu uso e sua validação como um meio de comunicação efetivo entre as pessoas a sua volta.

A implementação de CSA deve ser precedida de uma avaliação especializada para a indicação da melhor organização de linguagem para cada fase do desenvolvimento da criança. O recurso deve se adequar às necessidades e favorecer as potencialidades de cada um. Treinar parceiros de comunicação para serem eficientes fornecedores de modelos que possam ser reproduzidos pelas pessoas com NCC é de fundamental importância para uma implementação bem-sucedida. 

Assim, com um recurso bem indicado, personalizado, parceiros treinados e ambiente preparado, cada indivíduo tem a oportunidade de se desenvolver no máximo das suas potencialidades, pois a comunicação é um direito de todos. 

Ilustração: Alexandre Beraldo

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Alessandra G. Buosi é fonoaudióloga, mestre em ciências da saúde, formadora do Método PODD, responsável pela clínica Clarear Fonoaudiologia.

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