23 de janeiro de 2022

Tempo de Leitura: 3 minutos

Atualmente, cada vez mais a responsabilidade social está em evidência. No mundo corporativo, essa pauta torna-se ainda mais relevante. Afinal, não basta apenas mostrar que uma empresa ou organização está a par do que se espera no que diz respeito as atividades a que se destinam. É necessário, nos moldes de cidadania atuais, que também exerçam um papel importante quanto a inclusão, respeito as diferenças e equidade em nossa sociedade.

Até mesmo por uma visão capitalista, essa responsabilidade social não deixa de ser importante. A visão que o público-alvo tem da empresa pode refletir diretamente em maior ou menor sucesso e até mesmo decretar se o futuro será próspero ou amargo.

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Em geral, atender os anseios que tal responsabilidade demanda custa menos do que um plano de recuperação da imagem posterior a algum prejuízo que possa ocorrer por ignorar tal aspecto tão latente no mercado.

Porém, para isso é preciso estudo, é necessário que ocorra uma interação com as partes envolvidas, é preciso buscar compreender minimamente como realizar esse processo de maneira correta. Uma abordagem rasa desse tema pode trazer mais danos do que benefícios.

Não adianta se dizer um local inclusivo sem de fato ser. Propagandas podem até funcionar num primeiro momento, mas se o que é propagado não for condizente com a realidade, logo aquilo vem a tona e o efeito rebote que isso pode causar por vezes é mais danoso. E, assim, acaba por funcionar como “marketing negativo” que se propaga de maneira veloz em nossa realidade atual da informação rápida nas redes.

Não é incomum observar nas empresas atitudes que contradizem o que é apresentado ao público. Existem corporações que se dizem inclusivas e que não treinam seus colaboradores para atender e trabalhar com a diversidade de maneira adequada. A comunicação institucional não condiz com uma visão inclusiva quando fazem usos de termos preconceituosos e equivocados para se referir a determinado público.

Quantas placas vemos por aí dizendo coisas como “preferencial para portadores de deficiência”, “deficientes”, “portador de autismo”, “pessoas com necessidades especiais”, entre tantas outras terminologias incorretas que não respeitam minimamente as leis ou como essas pessoas preferem ser chamadas?

Quantas vezes vemos as prioridades sendo ignoradas e a falta de respeito as manobras de acessibilidade quando, por exemplo, na necessidade de se fechar um caixa para atendimento, o escolhido sempre é o que se destina ao atendimento prioritário?

Quantas, das pessoas com deficiência e familiares que aqui estão lendo, principalmente das pessoas com deficiências invisíveis como é o caso do TEA, já não tiveram seus direitos cerceados ou foram constrangidos por algum funcionário, mesmo numa fila onde o símbolo do autismo estava presente na placa?

Nesse último exemplo, alguém pode até ponderar que a culpa é da (falta de) educação do colaborador que não entende do assunto, e não da empresa. Porém, é obrigação da empresa treinar seus funcionários e, mesmo não eximindo completamente a responsabilidade do atendente, mesmo que ninguém conheça todas as condições e saiba avaliar de maneira a não cometer esses equívocos, ainda assim cabe a empresa treinar como abordar em situações onde a dúvida ao direito ocorra pois ninguém merece passar por constrangimento em público apenas por estar exercendo algo que lhe cabe com justeza.

Para complicar ainda mais a situação, também não é incomum que quando alguém burla ou corrompe o direito alheio submetendo algum cidadão a alguma dessas situações que citei ou a qualquer outra fruto do capacitismo, os meios de comunicação, jornais, entre outros, que mesmo fazendo matérias denunciando ou repudiando essas situações, também façam uso de termos preconceituosos como “sofre de autismo”, ou “portador do transtorno”. Elas também têm essa responsabilidade social da mesma maneira que qualquer outra empresa, se não mais ainda por serem formadores de opinião e propagadores de informação.

Desafio quem estiver lendo a digitar os termos que citei no Google e constatar quantas matérias atuais fazem uso dessas terminologias. Busquem e constatem o que estou dizendo na prática o fato que as pessoas com deficiência e seus familiares encaram no seu cotidiano.

Por isso, é preciso agir e não só fazer propaganda. Inclusão se faz na prática, com boa vontade e um tanto de estudo. Hoje em dia são diversas as organizações que se propõe a ajudar para que esse processo seja feito de maneira correta. E antes que alguém pense o contrário, não sou contra as empresas e instituições propagarem e fazerem campanhas de marketing em cima dessas questões. Apenas anseio que o que vejo nas propagandas seja concordante com a realidade quando faço uso daquele produto, local ou quando vou ler as notícias de manhã no jornal.

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Presidente da ONDA-Autismo e membro do Conselho de Autistas; ativista; administrador da página @autiesincero no Instagram, servidor público federal, palestrante e escritor.

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