7 de janeiro de 2022

Tempo de Leitura: 2 minutos

Estudo britânico, de 2018, apontou que quase 100%, ou seja, 96% das mulheres sentem culpa, pelo menos, uma vez ao dia. Aliás, essa sensação de culpa aumenta se a mulher for mãe. Além disso, eu sei por experiência própria, que a culpa na mulher autista pode ser elevada à enésima potência. Ser autista é um exercício diário. Entretanto, ser mulher, autista e mãe é uma combinação explosiva.

A culpa na mulher autista vem do estereótipo da ‘Mulher Maravilha’

Certamente, a culpa não é exclusividade feminina. Porém, existe a carga acentuada de uma cobrança estrutural da sociedade, ao universo feminino. Conquistamos o mercado de trabalho, mas não abandonamos as várias jornadas de mãe, esposa, filha, amiga, gestora de nossos lares.

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E, ainda, temos de fazer tudo com excelência e um sorriso nos lábios. Sob pena de ouvirmos, por exemplo, que estamos de TPM, ou qualquer outra justificativa tão sem noção quanto. A armadilha de acreditar que somos a ‘Mulher Maravilha’ pode nos levar à sobrecarga e, consequentemente, à maior possibilidade de errar. Haja culpa!

A culpa por não ser perfeita

Ninguém é perfeito. Isso é inatingível. Ainda assim, é o que se cobra da mulher. Tudo isso, claro, só piora o quadro da mulher autista. Ela nasce com essa carga maior de cobrança por ser mulher. E não para por aí. Dentro do espectro, com os diferentes graus de autismos, as manifestações mais conhecidas são na versão masculina.

Portanto, ao não se enquadrar no que se espera do modelo cultural do feminino, a mulher autista é mais cobrada e, consequentemente, possui uma sensação de culpa inesgotável. O que mais dizemos em nossas tentativas de socialização é: ‘desculpa’. Assim, o que já é difícil (culpa feminina), torna-se insuportável. Acrescente-se a isso as conclusões simplistas como: ‘ela está precisando de um namorado’ e, pior, as considerações capacitistas: ‘ela não consegue terminar nada do que começa.’

Novo ano, novas posturas

Em 2022, desejo mais amor e menos cobranças, mais solidariedade e menos julgamentos, mais estudo e menos ‘achismos’, mais observação e menos decisões precipitadas. Mas, acima de tudo, desejo mais relações sociais igualitárias e equânimes.

Somente desse modo, nós mulheres autistas, teremos menor sensação de culpa. Afinal, antes de ser mulher, mãe e pessoa com deficiência, somos cidadãs, com direitos garantidos por lei. E, claro, somos, também, seres humanos que necessitam de suporte, que nos garantam nosso direito à vida plena, com equidade.

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Jornalista e relações públicas, diagnosticada com autismo, autora dos livros "Minha Vida de Trás pra Frente", "Dez Anos Depois", "Camaleônicos" e "Autismo no Feminino", mantém o site "O Mundo Autista" no Portal UAI e o canal do YouTube "Mundo Autista".

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