7 de fevereiro de 2025

Tempo de Leitura: 3 minutos

A vida de quem tem Transtorno do Espectro Autista (TEA) em um país desigual em oportunidades, como o Brasil, não é fácil, principalmente quando o indivíduo autista sonha em cursar uma graduação em alguma instituição de ensino superior. Segundo a última edição do Censo da Educação Superior de 2023, produzido pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), foram registradas 2.726 matrículas de alunos autistas em instituições de ensino superior ligadas ao Ministério da Educação.

Esse aumento no número de estudantes autistas no ensino superior se deve, principalmente, a políticas de ações afirmativas, como o Programa Universidade para Todos (PROUNI), o Financiamento Estudantil (FIES) e, por fim, a Lei de Cotas nas universidades públicas. Essas iniciativas do Governo Federal contribuíram diretamente para o aumento das matrículas de alunos autistas em universidades públicas e privadas.

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Felizmente, tive a oportunidade de ser contemplado com uma meia bolsa do PROUNI e outra do Programa Universitário do Bem (PROBEM), oferecido pela Organização das Voluntárias de Goiás (OVG), entidade ligada ao Governo do Estado de Goiás. Durante quatro anos, tive a mensalidade do meu curso de Jornalismo subsidiada por esses dois programas, que foram essenciais para que eu pudesse ajudar meus pais a financiar meus estudos.


O desafio de fazer uma graduação estando no espectro autista

Outro obstáculo enfrentado por quem é estudante autista no ensino superior é a falta de acessibilidade nos espaços das universidades e faculdades, que, na maioria das vezes, não possuem infraestrutura adequada para receber esses estudantes. De acordo com as características do nível de suporte de cada um, pode haver sensibilidade à luz e, principalmente, ao barulho, o que influencia diretamente o desempenho em sala de aula.

Além disso, não podemos esquecer das dificuldades próprias do TEA, como a dificuldade de socialização, a gestão e produtividade do tempo, e o planejamento dos estudos e das atividades extra-acadêmicas. Se não forem bem planejadas, essas questões podem gerar muito desgaste e estresse. Felizmente, apesar de ter estudado em uma instituição privada, consegui encontrar suporte no Núcleo de Educação Inclusiva da faculdade.

A decisão de buscar apoio veio após enfrentar dificuldades iniciais para organizar uma rotina de estudos em casa, especialmente para ler as cópias dos textos que os professores deixavam na copiadora para os alunos. Muitas vezes, devido à extensão do material, eu não conseguia ler tudo a tempo e chegava perdido em sala. Confesso que foi a melhor decisão que tomei na vida.

Graças ao planejamento estruturado feito pela psicopedagoga, consegui melhorar esse aspecto e me tornei mais produtivo em sala e, consequentemente, nas avaliações. Isso me proporcionou maior ânimo para focar nos estudos, apesar das dificuldades com a socialização. Por sorte, devido à minha curiosidade, compensei esse desafio frequentando palestras e eventos para ampliar meu conhecimento, o que me ajudou a não abandonar o curso.


O que fazer para tornar as instituições de ensino superior mais atraentes para os autistas?

Apesar de o acesso à educação no ensino superior para pessoas com autismo ser um direito constitucional que evoluiu na última década, ainda existe o desafio de tornar o ambiente universitário mais atraente para o estudante autista, considerando suas limitações, sem que ele precise abandonar o curso.

É essencial que as instituições universitárias, sejam públicas ou privadas, adaptem seus ambientes para atender às necessidades dos alunos autistas e capacitem seus colaboradores, incluindo professores e funcionários administrativos, para recebê-los adequadamente. Todos sabemos que uma cultura de discriminação não se desfaz da noite para o dia, mas, com pequenos ajustes, a academia pode ter um papel fundamental como agente de transformação social.

Dicas para tornar o ambiente universitário mais acessível para o aluno autista:

  • Promova a conscientização e a educação sobre o autismo;
  • Utilize comunicação inclusiva, evitando o uso de metáforas e linguagens de duplo sentido;
  • Crie espaços adaptados às necessidades sensoriais dos autistas, considerando sons e luzes;
  • Estimule a participação de autistas em eventos e atividades acadêmicas;
  • Incentive uma cultura de empatia e respeito.

Fonte: FATEP/FATESPI – Piauí

Por último, mas não menos importante, além das ações educativas, é fundamental que o Governo Federal desenvolva políticas públicas que criem perspectivas de carreira para o indivíduo autista. Embora muitos consigam se formar, enfrentam dificuldades para se empregar na área devido ao preconceito, o que leva muitos a ficarem desempregados e a depender de programas sociais para se sustentarem.

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Jornalista, autista e ativista na luta antirracista.

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