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Segundo pesquisa feita pelo Instituto Cactus, em parceria com a Atlas Intel em 2024, 68% dos brasileiros sofrem de ansiedade. O mesmo estudo revelou ainda que apenas 15,3% dos entrevistados receberam o diagnóstico de um psiquiatra. Nunca estivemos tão ansiosos. O Brasil é o país mais ansioso do mundo, conforme já mostrou a Organização Mundial da Saúde (OMS).
De acordo com definição do Ministério da Saúde, a ansiedade é uma reação normal do corpo humano a situações de perigo ou ameaça, reais ou imaginárias. Porém, o excesso dessa reação torna-se um problema, principalmente para quem é diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista (TEA) tardiamente, na fase adulta.
O autismo é um transtorno global do desenvolvimento que geralmente vem associado a outras comorbidades, entre elas os sintomas de ansiedade. Normalmente, adultos autistas apresentam maior prevalência dessa condição devido à sensibilidade a estímulos como sons, cheiros, luzes, clima e até alguns tecidos, que podem atuar como gatilhos para crises de ansiedade.
O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece tratamento para os sintomas do transtorno de ansiedade e demais problemas de saúde mental por meio dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), que atendem pacientes com sofrimento psíquico. No caso de pacientes autistas, o atendimento ocorre nos CAPSi (Centros de Atenção Psicossocial Infantojuvenil), destinados a pessoas até 17 anos de idade, em grandes cidades.
Embora o serviço seja a única alternativa para 70% dos pacientes autistas usuários do SUS, uma vez que a maioria não tem condições de acessar terapias e especialistas na rede particular devido ao alto custo, o serviço apresenta carências, como a falta de profissionais especializados e a ausência de extensão do atendimento para pacientes diagnosticados na fase adulta e na velhice.
Desde 2023, o SUS incluiu os tratamentos de autismo na Política Nacional de Saúde da Pessoa com Deficiência, com um investimento total de 540 milhões de reais para o fortalecimento e a manutenção dos Centros Especializados de Reabilitação (CER), um acréscimo de 20% no valor total, que compõe a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) do SUS.
No entanto, os investimentos nem sempre acompanham a demanda crescente por cuidados com a saúde mental. Dados obtidos via Lei de Acesso à Informação (LAI) junto ao Ministério da Saúde revelam que, nos últimos cinco anos, houve um aumento de 70% no investimento para o fortalecimento da RAPS.
É preciso fortalecer os cuidados com os adultos autistas
Não adianta ter investimentos abundantes sem planejamento e aplicação corretos. O autismo nunca foi uma “moda” e não surgiu da noite para o dia. O aumento no número de diagnósticos tardios se deve ao maior acesso à informação. É preciso que o SUS, mesmo com suas inúmeras carências, se estruture para atender essa nova demanda relacionada ao autismo na fase adulta.
Hoje, após atingirem a maioridade, muitos autistas já não são atendidos nos CAPSi. Sem o suporte médico adequado, podem apresentar graves prejuízos na interação social. O autismo não desaparece na vida adulta e, muitas vezes, a luta por um diagnóstico pode agravar ainda mais a ansiedade, frequentemente confundida com depressão em adultos autistas.
A verdadeira inclusão vai muito além do suporte escolar e do acesso a terapias; inclui também cuidados com a saúde mental do indivíduo autista, seja ele adulto ou idoso. Em uma sociedade onde somos constantemente cobrados para sermos perfeitos o tempo todo, o suporte psicológico é fundamental para que essas pessoas aprendam a administrar melhor essas pressões.
Portanto, a prevenção é a chave para uma vida de qualidade e um caminho para o fim do preconceito no futuro, mesmo que seja um percurso longo e desafiador.