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Ouvir palavras preconceituosas já é algo corriqueiro na vida de pessoas com deficiência. As mais frequentes para autistas são questionamentos e críticas sobre: o diagnóstico (agora é modinha), a aparência (até hoje não sei como é “ter cara de autista”), a beleza (ser bonito é algo fora de questão), a inteligência (ou muito extraordinário do jeito quel a mídia divulga — e é uma minoria que detém esse tipo de intelecto — ou muito “burro” e, por burro, é no sentido de retardado mental; sim, é essa palavra ofensiva mesmo!), a semelhança (se não agir e tiver dificuldades igual a alguém com quem a “pessoa julgadora” tenha parentesco ou convivência, não é autista.
Geralmente a comparação é entre um autista adulto e uma criança ou um adolescente. Pense na comparação e em como é equilibrada!?). E as palavras de maior sucesso vêm junto com a semelhança e são sobre: o suporte (ah, mas é autismo leve, né!? Ou seja, é leve, logo não tem nada que torne difícil e limitante a vida nem necessita de alguma assistência) e a universalidade (ah, mas não é só autista que sente, faz, age assim! Todo mundo tem dificuldades, é normal!).
É muito estressante e frustrante ouvir tais ofensas, querer ou tentar explicar controlando a raiva ou frustração (que levará a crises — e voltar ao equilíbrio pós crise é complicado) por tal capacitismo e a pessoa NÃO querer compreender que, por ser um espectro, haverá autista de todo jeito, todo tipo de comportamento, todo tipo de limitação. Afinal, ser humano é isso: vastidão de personalidades com algumas características parecidas e outras nada semelhantes, pois somos diversos. Por mais que se ignore certos julgamentos, a decepção, o receio vêm e isso faz a pessoa questionar se realmente é alguém com necessidades especiais, se está fingindo algo, como dizem, e gera tantas outras situações negativas, por comentários maldosos. E isso, muitas vezes, justamente na fase mais delicada: o pós diagnóstico, quando se começa a aprender a ser realmente quem de fato se é, sem mascaramento.
Diagnóstico em geral não virou modinha, entendam! Apenas há maior conscientização de determinados profissionais de saúde, mais estudos na área a ser analisada, mais humanização nos atendimentos e escuta atenta quanto às queixas do paciente sem achismos disfarçados de conhecimento teórico e prático.
Para melhor informação, saibam que obter o diagnóstico não é tão simples como pensam: consultas, testes, exames, entrevistas, dúvidas, angústias. Não existe deficiente com cara, com jeito, com aparência tal, com beleza e afins. O que existe é deficiência e ponto final! Algumas são visíveis e outras não, mas isso não significa que devemos resumir apenas a algo vivenciado por nós, isso é apenas limitar e invalidar.
O preconceito vem de todos os lados, inclusive daqueles inseridos em determinada deficiência. O erro é generalizado e desconstruir isso vai demandar tempo, muita conscientização, muita divulgação correta (é perceptível a disseminação de estereótipos de minorias como se fossem maioria). Não somos especialistas em detectar limitações, mas somos especialistas em atacar o próximo com julgamentos disfarçados de conhecimento sem darmos importância aos sentimentos do outro.
Érica foi diagnosticada no TEA aos 35 anos; casada com o homem mais engraçado e compreensivo que já conheceu; apaixonada pelos pais; amiga dos irmãos e do enteado, adora seriados, documentários investigativos e filmes; aventureira em culinária; amante dos pets da família (2 gatos, 5 cachorros); zoeira com colegas de trabalho (dizem).