Recentemente, vivi uma experiência muito particular nas ruas de São Paulo. Em 13 de março, estive na Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência de São Paulo em uma reunião com a Secretaria Silvia Grecco para apresentar o projeto Eu Me Protejo e pensar em ações que pudessem divulgar o trabalho de prevenção à violência infantil e de pessoas com deficiência. A comunicação da Secretaria tirou fotos e Silvia gravou um vídeo durante o encontro. Tudo foi postado nas redes sociais no mesmo dia.
Obviamente, tive outros compromissos durante a semana e, para minha surpresa, fui parada algumas vezes por pessoas aleatórias com a seguinte pergunta: “Ei, você não estava com a mãe do Nick no Instagram?” Demorei um pouco para entender do que se tratava e confesso que fiquei maravilhada com a surpresa. Eram torcedores Alviverdes que reconheceram a Silvia, mãe do Nick, e estavam me reconhecendo. Silvia ficou conhecida por ser “a mãe que narra os jogos de futebol para o filho autista e cego; torcedor palmeirense”. Sua atuação nas partidas foi ficando famosa e Nick, conhecido como um verdadeiro torcedor.
O Nick era a “bola da vez”, saindo da invisibilidade e sendo uma pessoa legitimada por um grupo enorme de pessoas: um palmeirense.
É de nosso conhecimento que as torcidas têm aberto espaço para torcedores autistas, e que os estádios contam agora com salas especiais antirruídos para acomodar os torcedores com TEA e muito mais acessibilidade para pessoas com deficiência.
Para além da acessibilidade, o que me chama a atenção é a visibilidade. É o reconhecimento e acolhimento das torcidas, sejam de que time for, abraçando e abrindo espaço para a diversidade. Atualmente, são inúmeras torcidas organizadas de autistas, sendo recebidas respeitosamente pelos estádios e pelas torcidas neurotípicas.
Fico aqui pensando que o futebol é realmente um esporte mágico; abraça tudo e todos de uma forma a construírem uma nação. Provoca um alcance de suas atitudes que nos chega em ondas, abrangendo um oceano de pessoas. É claro que o fato de existirem torcidas de todos os times faz com que a escolha do time seja a única diferença não absorvida. Aqui mora uma grande dor que, há quem diga, a presença dos autistas poderá criar uma onda de paz entre elas. É o que esperamos.
Como uma não torcedora de jogos de futebol, tiro meu chapéu para o enfrentamento social que tivemos recentemente pelas torcidas; tiro meu chapéu pelo movimento de visibilidade das pessoas autistas e ainda, tiro meu chapéu pela união que caracteriza cada torcida. Parece que rumam para se tornarem exemplo de força e respeito. Algo que precisa, urgentemente, deixar de ser exclusivo aos seus próprios times e virar um pacto grandioso de paz.
O que vem acontecendo dentro das torcidas precisa ser espalhado para toda a sociedade, porém, para tanto, vão precisar mostrar que são capazes de atos não violentos contra seus adversários. A sociedade precisa da força e do respeito que existe em vocês, mas enquanto houver violência nos estádios, não os ouviremos.
Torcidas alviverdes, alvinegras, alvitricolor, e tantas outras, aceitem as diferenças fora dos estádios também. Temos muito o que aprender com vocês enquanto torcidas sobre inclusão e legitimidade. Que fique a mensagem de paz e sobre a incrível visibilidade de um autista torcedor.
Obrigada, Nick Grecco.