Em 19 de julho de 2022, morreu uma mulher queimada viva em praça pública no México. Essa mulher havia sido ameaçada pelo seu vizinho pelos barulhos que seu filho autista fazia durante o dia e a noite.
Sobre o fatídico episódio, creio que não preciso comentar mais nada. Muitos já foram os textos de solidariedade e luto espalhados pelas redes sociais. Entretanto, precisamos falar sobre acessibilidade e capacitismo e o cuidado com o cuidador.
Durante a pandemia de 2020, tivemos notícias de mães atípicas que cometeram suicídio; outras mataram seus filhos com deficiência e depois se suicidaram e, mais recentemente, soube-se de mulheres que faleceram por mortes naturais e seus filhos com deficiência ficaram dias e dias (os que sobreviveram) sem nenhum cuidado.
O que isso nos mostra? Que as mães (78% das mães com filhos com deficiência são abandonadas por seus maridos) com filhos com deficiência possuem uma rede de apoio pobre e descompromissada. Que elas não recebem atenção, carinho, suporte ou nem mesmo proteção quando são ameaçadas. São solitárias em seus caminhos e, escondem seus medos, ansiedades e desesperança porque não têm tempo para se ocuparem de si mesmas.
O desafio diário de uma mãe atípica, embora esse não seja meu lugar de fala (falo do lugar de saber como terapeuta de família), passa pelo ir e vir de salas de espera, de cobranças de profissionais sobre ‘como lidar com seu próprio filho (a), alimentação e o dia a dia de escovar dentes, trocar de roupa, amarrar sapato, arrumar mochila, cuidar para não haver acidentes domésticos, entreter, alimentar (cozinhar, limpar, dar de comer), intervir em meltdowns, procurar o único brinquedo que acalma, dar banho, fazer deixar lavar a cabeça, vestir de novo, colocar para dormir, tentar fazer dormir, dormir com olho aberto porque o filho (a) acorda a noite e se coloca em risco. Enfim, apenas para citar alguns exemplos do que ouço no dia a dia. Esse universo é comparado ao estresse de soldados em combate, segundo estudo citado na Disability Scoop.
Podem imaginar o que isso significa? Alguém em constante alerta de perigo, buscando fazer sobreviver a si mesmo e a seu ‘pelotão’. Vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana, por todos os anos de sua vida.
Nossa conversa com a sociedade se dá no exato ponto de que essas mães necessitam de vizinhos, familiares, agentes de saúde para poderem sobreviver à sua rotina desgastante. Precisamos de campanhas que conscientizem sobre empatia e solidariedade (não dó ou pena) para que elas possam ter espaços de troca, de conversa, de lazer; atividades tão importantes para a diminuição do estresse.
Finalmente, cabe ressaltar que estresse não é mimimi. Estresse causa aumento no número de morte por câncer e doenças cardiovasculares. É fato cientificamente comprovado.
Então? Vamos divulgar esse artigo e reunir a aldeia para ajudar a criar uma criança?