27 de abril de 2023

Tempo de Leitura: 2 minutos

Dia 2 de abril é o Dia Mundial da Conscientização do Autismo, estabelecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2007. Desde então, temos tido celebrações ao redor do mundo. Este ano, o tema da campanha no Brasil foi “Mais informação, menos preconceito”.

Em São Paulo, ocorreu um evento extremamente bem cuidado na praça do Memorial da América Latina, incluindo a organização de uma sala sensorial. Havia shows, brinquedos, distribuição de lanches, brindes e uma infinidade de famílias, autistas e profissionais estavam lá.

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Era um mar azul.

Lindo? Não para as mulheres autistas que não se sentem mais representadas pela cor azul.

A cor azul no autismo sempre esteve relacionada à prevalência entre meninos e meninas. Até a década de 1990, eram 4-5 meninos para uma menina. Já em estudos na última década, verificou-se que essa relação se alterou para 3 meninos a cada 1 menina diagnosticada. Houve um aumento significativo no número de mulheres diagnosticadas. As razões para esse aumento incluem questões como o “masking” ou “camuflagem social” tão comum em meninas.

Monique Mayumi Kamada, de 51 anos, diz que esse mar de azul promove um apagamento do autismo em mulheres e de outras minorias, como pessoas LGBTQIAP+, negros, indígenas. “O espectro é colorido para abranger a diversidade”, afirma.

O tempo todo dizemos que “precisamos dar voz aos autistas”. Digo e repito, precisamos OUVÍ-LOS, eles já têm voz. Mas, me parece que os ignoramos. Mantemos símbolos que que demonstram o quão complexos eles são, sendo que, somos nós, neurotípicos quem não os entendem. A complexidade é nossa, da nossa sociedade, para além de uma peça de quebra cabeças ou cubos; nossas regras não são claras e nos comunicamos de forma imperfeita e imprecisa. Não é à toa que nos transformamos numa sociedade de classificações médicas, para doenças de todo tipo. Ansiedade virou sinônimo de uma geração inteira.

A reivindicação sobre a mudança das cores e símbolos do autismo não é recente. A neurodivergência vem caminhando com cores e símbolo do infinito, buscando o reconhecimento da diversidade como algo real e legítimo. As cores indicam a pluralidade racial de identidade de gênero e, o símbolo do infinito, a grandiosidade das diferentes formas de expressão neurodivergente.

“Nada sobre nós, sem nós”? No dia 2 não ouvi as vozes dos autistas, vi um mar de quebra cabeças azuis; grupos números tirando fotos aos gritos com crianças em crise pelo susto e pelo barulho. Aliás, essa cena não me sai da cabeça. Eram umas 20 pessoas, gritando muito alto de alegria pela foto do grupo e uma menina autista de uns 5 anos em crise. As fotos saíram, ninguém tentou acalmá-la e muito menos reduzir o barulho que estavam fazendo. Fiquei constrangida, queria pegar a criança no colo, queria chorar.

De que conscientização falamos quando agimos dessa maneira? Quando vamos aprender a colocar em prática aquilo que lemos nos livros acadêmicos? Quando vamos entender que depende de nós a mudança?

Segundo Renata Parisotto, 46 anos e autista, há muito o que fazer. “Nossa sociedade precisa de reformulação, onde os diferentes precisam deixar de ser diferentes. Precisamos de mais respeito agora. Mais amor agora”, disse ela. Penso que a fala da Renata pede uma reflexão sobre a aceitação da diferença como sendo sine qua non para uma sociedade mais equitativa, onde ser diferente faça parte do comum, do trivial do dia a dia. De nada vale informação se não as utilizamos. Lá, éramos o grupo que tem a informação.

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É psicóloga clínica, terapeuta de família, diretora do Centro de Convivência Movimento – local de atendimento para autistas –, autora de vários artigos e capítulos de livros, membro do GT de TEA da SMPD de São Paulo e membro do Eu me Protejo (Prêmio Neide Castanha de Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes 2020, na categoria Produção de Conhecimento).

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