8 de novembro de 2022

Tempo de Leitura: 2 minutos

Um assunto muito pertinente ao autismo são as alterações sensoriais em pessoas autistas. Ou, em outras palavras, o Transtorno do Processamento Sensorial. Esas alterações podem acontecer em diversos sentidos físicos. E não apenas naqueles que conhecemos do sendo comum. Por exemplo, todos lembram de tato e paladar. Mas existem outros sentidos além dos cinco mais conhecidos. É o caso de propriocepção e sistema vestibular. Respectivamente, responsáveis pela noção de força e o senso de equilíbrio que uma pessoa exerce nas interações.

Certa vez, uma psiquiatra me disse que as alterações sensoriais entraram nos critérios diagnósticos para autismo apenas em 2013. Ou seja, elas tornaram-se parte oficial do Transtorno do Espectro Autista com o DSM-V. Porém, aqueles que trabalhavam com o tema já levavam essa característica em consideração desde muito antes disso.

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Na verdade, foi a contribuição vinda dos relatos de autistas com menor demanda de suporte que possibilitou a descoberta deste traço. Aliás, é um sinal de autismo presente em todos os níveis de complexidade que a condição pode manifestar.  Isso quer dizer que as alterações sensoriais existem em todos os graus de autismo definidos pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, o DSM.

Na prática, conviver com o transtorno sensorial não é fácil. Por exemplo, se mamãe está hiperfocada em uma demanda e eu chego feliz para abraçá-la, o toque é doloroso para ela. Afinal, é mais estímulo. Portanto, não cabe naquele momento. Às vezes eu também me assusto.  É que ela não sabe quando estou às voltas com  um raciocínio importante. Daí, mamãe interrompe e eu olho, como quem diz: “não chega nem perto senão eu vou perder o fio da meada”.

Além disso, toda a nossa família apresenta algo que nos traz muito sofrimento. É algo em comum entre mim, minha mãe, minhas tias e minha av. Ou seja, a nossa hipersensibilidade ao frio. Por exemplo, se a temperatura cai, a sensação térmica parece que diminui mais ainda para a gente. Antes, eu me definia como daquelas pessoas que qualquer ventinho irrita. Isso porque eu sinto frio de um jeito até constrangedor. Por exemplo, coloco roupa de frio na praia. Isso, quando começa a ventar, mas todas as mulheres ainda usam biquíni.

Na realidade, essas alterações podem ser hiper ou hipo.  Então, há casos de crianças que gostam de ficar  sem roupa. Isso pode significar uma hipersensibilidade à textura do tecido. Também pode ser uma baixa tolerância ao calor. Só que isso varia de pessoa para pessoa. Mesmo entre autistas. Por exemplo, qualquer barulho incomoda mamãe. Mas eu posso dar entrevista em um lugar com banda ao vivo sem me afetar.

Agora, a questão do frio me desequilibra. Inclusive porque, se eu não estiver confortável com o agasalho, a roupa vira outro problema. Some-se isso a um cabelo molhado. E o humor, então, fica péssimo. Aliás, vocês não tem noção do horror que é conviver com a minha avó no frio. Vovó passa muito mal nessa época. E eu também. Assim, a gente fica depressiva e irritadiça muito mais rapidamente.

Tudo isso, sem falar naquela impressão de que você é uma mulher fresca. Por exemplo, mesmo no calor, sinto uma gastura forte com água gelada no salão de beza  O que, na minha maneira de sentir, é pior do que a maioria das dores. Enfim, desse modo a gente vai se conhecendo e se espeitando. Além de buscar ter maior empatia com os outros.

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Jornalista, escritora, apresentadora, pesquisadora, 24 anos, diagnosticada autista aos 11, autora de oito livros, mantém o site O Mundo Autista no portal UAI e o canal do YouTube Mundo Autista.

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