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Minha autoestima nunca foi das mais elevadas, muito pelo contrário. Só que sempre “me garanti” como comunicadora.
Repito à exaustão que a única coisa que sei fazer bem na vida é perguntar. Ok, posso ter e sei que tenho outras habilidades, mas, para mim, entrevistar sempre foi uma música que eu sei tocar com tranquilidade e o mais importante,: com segurança.
O Esquizofrenoias é o meu podcast de saúde mental, muito bem consolidado, indicado a prêmios e pioneiro no assunto. Já o faço há quase cinco anos e adoro tudo nele: de alguma forma admiro a minha capacidade de falar de temas infelizmente ainda delicados.
No ano passado, ao saber que estouno espectro autista, tive a certeza de que precisava usar minhas plataformas para comunicar algo sobre este assunto também. Havia chegado a hora de ampliar o foco do meu trabalho.
Se a saúde mental ainda é tabu, comecei a divagar comigo mesma sobre a necessidade de falar também a respeito do autismo. Foi então que decidi criar o “Amanda no Espectro”: o primeiro produto audiovisual do Esquizofrenoias.
A ideia sempre foi deixar bem clara a minha completa ignorância sobre o assunto. As perguntas, desta vez, ao contrário do Esquizofrenoias, seriam mais primárias, afinal eu não sabia nada ou quase nada sobre autismo. Não me constranjo por não saber e perguntar. É meu novo assunto favorito, talvez um hiperfoco?
Ainda estou me acostumando com os termos e me “reconhecendo” nas entrevistas através dos personagens.
Eu nunca me senti parte de uma “galera”, de uma turma no sentido mais amplo da palavra.
Na escola, tudo foi bem difícil para mim:: me conectar com as meninas da minha idade, fazer amigos, mantê-los. Tudo sempre foi complicado. Desde contar sobre como foi meu dia para os meus pais à maneira como eu pintava os mapas na aula de geografia, ou como eu nunca entendi a minha própria letra. Venho descobrindo até sobre os lápis que mastiguei até hoje sem perceber ao longo dos meus 37 anos.
Bombei em telejornalismo na faculdade “só” porque eu não consegui olhar para a câmera e decorar um texto simples na prova final.
Aquilo que eu acreditava ser só meu, aquilo que me fazia sentir tanta vergonha de não me adequar, ou o porquê eu sempre chorei tanto e nunca consegui abrir os olhos na praia. Tudo está lá no Amanda no Espectro (e devo dizer que da maneira mais honesta) me conhecendo novamente e juntando peças para que eu finalmente faça parte de uma comunidade, de uma “galera”. Eu já havia desistido de fazer parte de um grupo.
Tem sido uma jornada muito estressante, intensa e de alívio. E eu não conseguiria aprender tanto sem compartilhar isso com quem me acompanha.
E mesmo não olhando para a câmera da maneira tradicional, acho que estou me saindo muito bem e, se eu fosse a professora que me repetiu daquela vez, me daria mais que 10 pois me garanto nessa de comunicação.