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Mais um ciclo se encerra, e um novo começa. Como fica a vida das famílias da comunidade do autismo? Temos o que comemorar? Quais foram os ganhos ou perdas no período? O que esperar e planejar para o ano de 2024?
Uma coisa é certa. Vamos aprendendo com o tempo, e a experiência do viver tende a nos tornar mais sábios. Digo isso porque amadureci muito nesses anos em que estou ativo na vida pública em prol do autismo. Hoje penso de forma mais ampla, pois não aprendo apenas com a minha vivência como pessoa autista e pai de autista, mas também com o convívio com milhares de pessoas por todo o país, com várias outras realidades.
E pensar de maneira ampla no autismo, coisa que essa vivência me mostrou, é nunca generalizar, e sim respeitar histórias únicas. No ano que passou, ainda vi muito julgamento, muita imposição do que é melhor ou pior para o outro, muita medição da dor alheia com uma régua que não tinha alcance, às vezes, nem para medir cá, mas que queria medir lá!
No ano que passou, houve pessoas que acabaram de receber o diagnóstico e não compreendiam nada sobre autismo e assim continuam, outras que se especializaram no autismo da sua casa, outras que estudaram o autismo de forma mais geral, outras tantas que ainda nem sabem o que é esse tal de autismo.
Neste ano que começa, todos esses ciclos irão se repetir com outras tantas famílias. E o que aprendemos? Como evoluímos na causa? Incluir é acolher. E acolher é acolher em todos esses momentos e entendimentos. Mais importante ainda é termos o entendimento de que as respostas para todas aquelas perguntas que fiz no início só poderão ser respondidas por cada um dentro da sua realidade.
Não ouso achar que todos podem comemorar. Seria petulante tentar conjecturar como ficarão as vidas das famílias atípicas se nem ouso imaginar o que cada um passa dentro dos seus lares. Não posso afirmar quem ganha ou quem perde quando uma verdade difícil de encarar recai sobre seus colos.
Mas posso desejar. Isso posso! Desejo mais união, principalmente quando é difícil de entender porque alguém odeia o autismo nesse momento tendo a consciência que o que lhe dói já pode ter doído em mim. Desejo acesso para que todas as pessoas possam também ver o lado bom da condição. Desejo menos transtorno e mais inclusão, colocando na sociedade o dever social de suplantar barreiras que são de todos e não apenas das pessoas autistas.
Não posso julgar o eu de ontem com o entendimento que tenho hoje. Da mesma maneira, não devo julgar as famílias que estão em fases diferentes da experiência de uma vida atípica esperando que tenham todas as mesmas concepções. Com o que sei hoje, posso julgar como devo ser amanhã. Alguém melhor, inclusivo, anticapacitista e que busca sempre evoluir. Para o ano que começa, desejo que possa ser melhor do que o que fica para trás.
Um feliz e melhor ano novo a todos e todas!
Fábio Cordeiro
Presidente da ONDA-AutismoS