1 de junho de 2023

Tempo de Leitura: 2 minutos

Filhos são dádivas. Nos permitem descobrir reservas quase inesgotáveis de sentimentos. De todos os tipos de sentimentos. Às vezes nos causa grande surpresa saber que os possuímos. Quando pequenos trazem uma carga de cansaço, físico e emocional, muito grande. Quando crescem uma de preocupação. E, permeando o transcorrer do tempo e as mudanças inevitáveis, exasperação, irritação, satisfação, orgulho, felicidade, impaciência, etc, etc, tudo bem mesclado com um amor sem fim. 

Minha jornada com um filho dentro do TEA tem sido assim. A cada fase do meu filho, com suas necessidades peculiares, tenho respondido com uma gama de sentimentos e expectativas. Normal. Fases difíceis correspondem a sentimentos dolorosos. Tanto no meu filho quanto em mim. O oposto nas fases boas. A eterna montanha russa de nossas vidas. Acontece que estamos nessa jornada há mais de trinta anos, e, dando uma avaliada nesse transcurso de tempo, percebo que, no geral, sempre se anda para a frente. E, apesar de um impulso – muito natural – de querer proteger a cria, nem sempre conseguimos esse intento, e isso é bom. 

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A vida cobra participação de nossos filhos. Quando maiores, mesmo com suas específicas dificuldades, temos que deixá-los tentar, experimentar e, eventualmente, sofrer com as voltas que a vida traz. Nossos sentimentos, então, são bastante difíceis. O medo, acho eu, nos tempos atuais, é uma constante. O mais difícil, para mim, é saber que a dor faz parte do processo de crescimento. Como proteger um filho, qualquer filho, das dores do crescimento? Vontade não falta, mas é impossível. Nesse processo de aceitação da vida como educadora e formadora, apesar dos pesares, venho percebendo que meu filho não é tão frágil, e que tem sobrevivido às demandas do dia a dia e, maravilha das maravilhas, tem crescido e se fortalecido. 

Nosso apoio emocional — dos pais, da família, cuidadores, professores, terapeutas e tais — é necessário, mas o trabalho de processamento desses percalços é de nossos filhos. E, ó surpresa, percebemos que, mesmo na possibilidade de retorno às situações vividas, em que eles foram felizes e que nos foram tiradas pelo ir e vir da vida, não será mais conveniente retomar aquela rotina, pois eles cresceram, amadureceram, e buscam outros horizontes, mais amplos e com novos desafios.  E os nossos sentimentos, como ficam? Eu, particularmente, fico profundamente agradecida e, como dizem na roça, feliz como um pintinho no lixo!

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É casada e mãe de dois filhos, sendo o mais moço autista severo. Formou-se em odontologia, exerceu a profissão até 2006, quando decidiu dedicar-se integralmente ao filho.

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