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O autismo chegou a um ponto de conhecimento em que quase todo mundo já sabe que os autistas adultos existem, e estão falando sobre seus autismos. Sim, autistas crescem, saem de casa, namoram, se casam, fazem faculdade, trabalham. Isso tudo sem terem “cara de autista”.
Desde que os primeiros autistas começaram a divulgar nas redes sociais que estavam no TEA, começamos a segui-los, ouvi-los, fazer perguntas para saber como foi viver o autismo, crescer autista sem saber que eram um. Muita informação, muita gente, muitos desafios, milhares de histórias singulares. Encontramos os autistas adultos que estão bem, os que não estão tão bem, os que estudam, os que trabalham, os casados, os solteiros em busca de uma relação; os autistas que tiveram uma família unida, os autistas com um passado difícil, os que sofreram bullying, os que foram abusados sexualmente. Autistas artistas, cheios de talento, autistas sem altas habilidades, mas com os mesmos desejos e direitos de viverem uma vida plena.
Tanto conhecimento em autismo e, ainda assim, paradoxalmente, tanta falta de compreensão, muitos julgamentos e algum preconceito com essas pessoas que cresceram sem diagnóstico, alguns se achando errados e diferentes demais dos outros. Pessoas com TEA que dizem, com frequência, que não se encaixam no mundo.
E apesar de tanto esforço em contar suas vidas em público, nas redes sociais, blogs ou eventos, são cobrados por quem ainda não deixou a ficha cair: que os autistas adultos amadureceram sem saber quem eram, de verdade, que ainda estão buscando respostas para seus pensamentos, sentimentos e ações que nunca lhes foram explicados durante sua infância e adolescência.
As crianças autistas nascidas a partir de 2010 têm uma relativa vantagem em comparação a quem cresceu numa sociedade desinformada, capacitista, e pouco inclusiva. E os adultos de hoje, com diagnóstico recente, são o (grande) grupo que aprendeu tudo “na marra”. Descobriram como conviver em círculos neurotípicos, usando sua inteligência, ou intuição, somente. Nada de terapias, ou tratamento intensivo que as famílias da atualidade começam na infância. Por isso, tenhamos paciência, e respeito antes de desconsiderarmos o que os autistas dizem.
Ao invés de críticas, o reforço positivo compensa muito mais. Ignore o que não considera correto, e reconheça o esforço, ou a capacidade em se expressar. A comunicação é, sim, um grande problema para pessoas com TEA, em geral. Muitos deles não percebem quando são ríspidos, por exemplo. Não, não é legal, mas se a gente sabe disso, deve ao menos levar em consideração, tomando mais cuidado com o que diz e o que escolhe entender. Não é fácil lidar com todos os autistas, mas, com toda certeza, os autistas devem achar muito difícil lidar com neurotípicos.
Mais atenção para o autista adulto, e respeito pelo seu passado. Se o passado formou o autista, nossa atitude no presente pode significar qualidade de vida dos autistas no futuro.