9 de agosto de 2024

Tempo de Leitura: 2 minutos

Nos últimos anos, a conscientização sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA) tem aumentado, mas ainda há desafios significativos quando se trata de diagnóstico, especialmente para aqueles que não são identificados na infância e na adolescência. O acompanhamento correto do quadro pode ter impactos positivos profundos na vida de um indivíduo, desde a infância até a idade adulta. 

Todavia, como nem todos os pacientes recebem o diagnóstico correto, muitos tentam mascarar comportamentos na tentativa de pertencimento ao grupo, fazendo o uso de uma estratégia que chamamos de “masking”. Uma paciente minha disse, por exemplo, que ela dá risada quando percebe que todos riem para não parecer estranha, mesmo muitas vezes não entendendo o motivo ou não vendo graça na situação. Um outro disse que costuma olhar na testa das pessoas porque sabe que os outros acham estranho quando ele conversa sem olhar nos olhos, ou seja, é uma tentativa de se encaixar. Isso gera um estresse elevado, normalmente trazendo uma desregulação emocional muito grande que desencadeia em outros problemas de saúde mental como depressão e ansiedade, exaustão, somente para citar alguns exemplos. 

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O diagnóstico traz autoconhecimento, uma vez que os pacientes passam a entender melhor o seu funcionamento, respeitar como são e conseguir melhores estratégias para lidar com isso sem tanto desgaste. O que para muitos é libertador, pois deixam de ser o estranho, o esquisito e também encontram a explicação para situações que passaram na infância, adolescência e até mesmo as dificuldades que enfrentam na idade adulta. A avaliação neuropsicológica ajuda não só chegar ao diagnóstico mas também detectar quais as partes cognitivas afetadas e orienta como seguir dali pra frente, além de facilitar o acesso a recurso e o apoio necessário para trazer mais qualidade de vida ao indivíduo. 

Barreiras para o diagnóstico 

O TEA é um espectro, o que significa que seus sintomas podem variar. Alguns indivíduos podem apresentar sinais sutis que são facilmente confundidos com outras condições ou considerados parte do desenvolvimento típico. Há ainda muito estigma em torno do autismo e a falta de compreensão sobre o transtorno podem levar ao subdiagnóstico, já que alguns sintomas são comuns em outros quadros, como TOC e TDAH. Além disso, a falta de acesso a cuidados de saúde adequados e a recursos educacionais pode atrasar o diagnóstico. Famílias em situações socioeconômicas desafiadoras podem ter menos acesso a especialistas e avaliações necessárias para a identificação precoce.

Por esse motivo, a avaliação neuropsicológica e o diagnóstico, ainda que tardio, é tão importante, pois ajuda entender quais essas singularidades de cada um, de forma individual. Eu costumo dizer que o diagnóstico do autismo é um pra cada um por isso. Embora a identificação precoce seja ideal, é importante que os sistemas de saúde, mercado de trabalho e educação estejam preparados para apoiar indivíduos diagnosticados mais tarde na vida. Com uma maior conscientização, treinamento adequado e acesso a recursos, é possível amenizar os desafios associados ao diagnóstico tardio, além de promover um desenvolvimento e mais inclusão às pessoas que fazem parte do espectro.

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Psicóloga especializada em ​terapia cognitivo comportamental (TCC) pela PUC-RS, pós-graduada em ​neuropsicóloga pelo Hospital das Clínicas - FMUSP e fundadora do Instituto Pontes (@instituto_pontes).

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