Tempo de Leitura: 3 minutos
Na adolescência, tudo muda: o corpo e a mente. O adolescente autista passa pelas mesmas mudanças, ainda que com algumas diferenças. Alguns podem ter as mudanças físicas sem estarem preparados psicologicamente para elas. O corpo muda e as sensações podem ser amedrontadoras.
O autismo é um distúrbio do neurodesenvolvimento, sendo assim, a idade mental pode não acompanhar a idade cronológica. Entender isso é meio caminho andado. Não espere do adolescente o que ele não pode dar, ainda. Imagine o adolescente ter catorze anos com comportamentos bem infantis, de cinco. Ao mesmo tempo, poder falar como uma criança de sete e ter a inteligência de um adulto. Impressionante? Pois é: isso é autismo. As partes social e emocional podem ser mais atrasadas do que em outros adolescentes, ou podem até ser mais desenvolvidas.
Conversar com o adolescente sobre seu autismo
Um adolescente está em busca da identidade como qualquer outro. Todo adolescente quer ser “normal” como qualquer outro. Apesar disso, é importante conversar com o adolescente autista sobre seu autismo e a influência do autismo no seu comportamento. Vai ajudá-lo a compreender melhor a si mesmo.
Adolescência e Sexualidade
No aspecto da sexualidade é importante lembrar as características e transformações típicas do ser humano, do nascimento à idade adulta (tendo como referência as fases de desenvolvimento segundo Freud):
- 0-2 anos – fase oral/ seio materno = fim da fome
- 2-6 anos – curiosidade natural / mexer nos genitais causa prazer sem desejo sexual / autocontrole (fezes/urina) traz satisfação
- 6-10 anos – fase da latência / conhecimento do mundo/esportes/amizades/aprendizado
- 10-16 – hormônios / desejo sexual
- 16/18+ – maturidade sexual
Porém, no autismo as perguntas mais importantes são:
- Que idade mental/emocional/sexual o adolescente tem agora?
- Qual o seu nível de comunicação?
- Qual o seu nível de cognição?
- O adolescente tem desafios de ordem sensorial?
É preciso analisar se o adolescente tem a maturidade emocional equivalente à sua maturidade física, de acordo com seu desenvolvimento biológico.
Em geral, muitas famílias têm dificuldades em abordar o tema com seus filhos. Nas famílias onde existe um (pré)adolescente autista também. Justamente por causa do autismo, adolescentes podem ter mais vontade de compreender o assunto do que adolescentes não autistas. Usando a forma de comunicação adequada, pais, professores e terapeutas podem esclarecer dúvidas que nem sempre são compartilhadas pelos autistas.
As informações essenciais visam proporcionar a compreensão das sensações físicas que o despertar da sexualidade traz; o que podem fazer para aliviá-las; como podem fazer; quando podem fazer; com quem (relacionamento ou masturbação). O nível de cognição do autista vai fazer uma grande diferença. Se o autista não for verbal, vai existir a necessidade de ser instruído com auxílios visuais, como materiais adaptados de ensino, apropriados para esse tipo de educação sexual.
Também de imensa importância é que o adolescente autista saiba que não deve tocar ninguém que não deseje ser tocado e vice-versa — não permitir que toquem em suas partes íntimas sem conhecimento, preparação e devida autorização.
Masturbação
A masturbação é a prática sexual largamente usada por adolescentes, por autistas também. No entanto, devido aos eventuais déficits de comunicação, pode não estar claro para o autista como se masturbar. Sabe-se que a agressividade entre adolescentes pode ser uma das consequências da não satisfação sexual, ou a chegada ao orgasmo. Os cuidadores destes adolescentes devem identificar o problema e ajudá-los a conduzirem a questão da forma mais ética e humana possível. Atenção, tempo, antecipação, preparação e uso de linguagem/comunicação adequada são palavras-chaves.
Processamento Sensorial e Sexualidade
Muitos autistas têm hipersensibilidade ou hipossensibilidade sensorial. No que se refere ao tema deste artigo, isso se traduz em dificuldades sensoriais na hora do sexo. Por exemplo, susto, medo ou nojo de tocar ou ser tocado, ou de sentir/ver/cheirar secreções. Autistas são sensíveis a ruídos, toque, olfato, paladar e ao que vêem. Entender o processamento sensorial de cada autista, individualmente, é imperativo para a sua educação sexual.
Relacionamento afetivo
Autistas devem aprender que sexo nem sempre vem acompanhado de amor ou afeto. Ou seja, compreender o que é um, o que é o outro, e o que significam os dois, juntos, para o caso de cada adolescente autista. Devem ter algum tipo de suporte no caso de um envolvimento mais afetivo, de longa duração. Afinal, a interação social é um dos grandes desafios da pessoa com autismo. Nem sempre é um problema, a propósito.
Pais sem culpa
Quando for necessário buscar ajuda, pais não devem se sentir culpados. Querem o melhor para seus filhos. Um terapeuta ou coach pode oferecer uma excelente ajuda, bem direcionada, neste aspecto da sexualidade do adolescente e de sua preparação para a vida adulta.