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Ela tem 25 anos, é médica e teve, ao mesmo tempo, o diagnóstico de autismo e de câncer de mama.
Não passa semana que não tenha duas ou três consultas com especialistas e exames por fazer, além das sessões de quimioterapia, obviamente. Ansiedade passou a ser seu nome do meio; sofre à espera dos resultados dos exames, sofre à espera das autorizações do plano de saúde, sofre com o pós quimio e com as dores no corpo após as injeções para imunidade.
Sofia vive por um fio. Aprendeu que usar máscara de olhos e tampões de ouvido durante o trajeto aos consultórios, alivia sua ansiedade e auxilia na autorregulação. Segura na mão da mãe que pediu afastamento do trabalho para acompanhar a filha durante o tratamento. Afastamento sem remuneração, cabe salientar, de cargo concursado, ‘porque filho adulto não precisa de acompanhante’. Mas ela é autista, dissemos nós; ‘não muda nada’, dizem eles.
E a vida segue para Sofia e sua mãe que são privadas de seus direitos garantidos por Lei, vivendo da ajuda do pai e do INSS de Sofia por auxílio-doença com uma pensão muito abaixo do seu salário. Seu afastamento do trabalho também segue sem remuneração.
O pai, que mora em casa separada, vive de folgas trabalhadas para complementar seu salário de vigilante 12 x 36 e poder auxiliar a ex-mulher e a filha nesse momento delicado em que estão passando.
Sofia, uma médica muito dedicada aos estudos, passou a entender tudo sobre seu tumor. As possíveis causas, a probabilidade estatística de cura, os potenciais desdobramentos do tratamento, a relação com os resultados de seus exames e o histórico familiar. Nesse quesito, encontrou mais autistas, mas nada de câncer.
Um belo dia Sofia se dá conta de que não faz parte de nenhum grupo de risco para o desenvolvimento de seu tumor, mas, refletindo um pouco mais, se dá conta que toda sua vida sofreu de estresse e que, estresse crônico e câncer, são títulos de artigos científicos no mundo todo.
Era uma criança calada, tímida, estudiosa e que amava ler. Não tinha amigos, passou a infância e adolescência sozinha durante os intervalos em uma escola pública sem biblioteca e em uma época em que o celular não era popular. Sozinha e sendo chacota por ser ‘certinha’, ‘nerd’, ‘santinha’, num ambiente onde a sexualidade e as drogas faziam parte do dia a dia.
“Minha paz era ler”, livros que pegava nas bibliotecas municipais quando o pai a levava. Mas não tinha com quem dividir as histórias que lia, os lugares que visitava e os romances que vivia. Continuava a ser a ‘santinha’ da escola que frequentava. Conta que havia um corredor estreito e muito cheio de alunos o tempo todo, sua sala era no final desse corredor. Passar por ele era um pesadelo; eram mãos tocando seu corpo, um barulho que invadia sua mente e dor. Muita dor no corpo.
Tudo o que vivia sentia no corpo. Tinha dores intensas todos os dias. Seus pais a levaram a um médico, quando tinham plano de saúde, um neurologista que passou antidepressivo para Sofia, aos 10 anos de idade, por conta de suas dores no corpo do bullying que sofria.
Sofia sofreu bullying, incluindo ameaças de violência física do 4º ao 9º ano, em uma escola que odiava, que ficou sem professor de matemática por 3 anos e onde nunca tivera uma aula de física.
Surgem duas possibilidades de mudança em dois colégios muito especiais. Uma ETEC e um outro colégio mantido por uma empresa que primava pelo estudo de excelência. Ambos precisavam de uma prova para entrar e, o segundo, muito concorrido, ela disputaria com alunos da rede privada de ensino. Foi desestimulada a prestar os exames. Não teria como passar.
Passou e pode escolher onde queria estudar. Foi para a segunda opção, o colégio da empresa. Lá, convivendo com pessoas advindas de colégios particulares, pode perceber como sua educação havia sido negligenciada pelo Estado e como se sentia defasada nos estudos.
Não se cansou de estudar.
Sofia ainda nos conta sobre seus 3 anos de ensino médio e seus 6 anos de medicina, onde desenvolveu depressão e anorexia.
Se quiser saber mais dessa história entre “estresse crônico e câncer” conta aqui pra gente (nos comentários das redes sociais).