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Hoje quero falar sobre autismo e autoestima baixa. Certa vez, uma avaliação neuropsicológica destacou que eu me considero menos competente do que 95% das pessoas. Muitas pessoas acham isso “louco” e “engraçado” quando eu conto. Afinal, como elas me lembram, estou entre os menos de 1% da população que chega ao doutorado. Sem contar no canal com 80 mil inscritos, a carreira de jornalista e crítica de cinema e os dez livros publicados, alguns com aclamação crítica. Também sei que tenho uma mãe simplesmente incrível!
Pensando no lado profissional, consigo entender racionalmente que tenho um bom currículo, mas, em nível de sentimentos, isso não é algo que acredito. Afinal, sinto-me carregada de fracasso e frustração. Por isso, acabei brigando com muita gente, algumas delas figuras de autoridade profissional, porque achei que essas pessoas me menosprezam.
Autismo e autoestima baixa
A verdade, porém, é que eu que me menosprezo. Quando alguém me trata com distanciamento e eu nem sei bem ler o motivo, imagino que é porque me considera alguém irrelevante. Sentir assim me dói tanto que por vezes ofusca o real motivo desse comportamento. E às vezes me surpreendo quando algum amigo explica que agiu dessa forma justamente por ter tamanha reverência a mim que fica sem graça na minha presença ou se sente ameaçada.
Esse tipo de situação aconteceu tantas vezes que estou começando a acreditar que muitas vezes eu rejeitei alguém com medo da rejeição do outro. Afinal, eu já me senti muito invalidada nas minhas próprias demandas. Era algo pior do que ser odiada, Eu me via como um fardo!
Como lidar com a falta de autoestima no autismo
Essa dor se potencializou com o meu diagnóstico de autismo na adolescência, pois as pessoas (ainda mais naquela época) tinham lentes muito pejorativas sobre a condição. Algumas tinham medo de eu me tornar uma psicopata, outras me julgavam como incapaz. Tudo por desconhecimento validado por gente que arroga o saber científico para si.
Hoje eu percebo que a melhor amiga da autoestima é a gratidão! Por isso, tento entender meus sentimentos e puxar os meus pensamentos para uma realidade mais concreta das coisas pelas quais sou grata. Amo minha família e, sim, tenho orgulho da trajetória pessoal e profissional que construí.
Por essas experiências, defendo que nunca será errado os autistas manifestarem orgulho a si próprios e tentarem construir afirmações positivas a seu respeito. Não quer dizer que tudo esteja a mil maravilhas ou que esse é um relato fiel de como somos. Quer dizer que, por meio da linguagem, estamos trabalhando para mudar essa linguagem que nos demoniza, por mais que use termos mais científicos e modernos para fazer isso.