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Às vezes, dou umas pausas no ato de escrever, para tentar entender pensamentos que lutam por um espaço só deles, em minha cabeça. Para quem conhece sobre o TEA – Transtorno do Espectro do Autismo, já sabe como é. Eu tive uma crise ou colapso ou burnout. Mas para quem não conhece, geralmente, ficam os rótulos: ‘piti’ ou frescura ou crise nervosa. Para mim, ficou o sinal: “Pare antes de bugar geral.” Isso é autismo e grito pelo direito de ficar brava.
Mas ficar brava com o quê?
Quando sinalizo no autismo, pelo direito de ficar brava, é sinal de que algo me incomoda há muito tempo. Significa também, que eu já utilizei todas as estratégias sociais aprendidas, legitimadas e introjetadas por mim. Além disso, já apliquei todas as estratégias aprendidas em meus cursos dentro da Comunicação Social. E mais: já exercitei o caminho do meio ensinado pelo budismo que pratico que traz a sabedoria colhida dessa prática.
Mas ficar brava com o quê? Não, nem é “brabeza de verdade.” É o desejo de diálogo, de construção de pontes para o entendimento mútuo. O conflito é imprescindível para o crescimento e o avanço. As diferenças, para a criatividade que nos leva à uma construção que contemple o coletivo. Mas o confronto, bem…, o confronto desdenha o diálogo. Ele não pretende criar alternativa para que todos saiam ganhando. Não! Ao confronto, não interessa ‘CONvencer’ ou vencer junto. A ele só interessa VENCER.
Portanto, temo o confronto e fico muito brava quando me percebo diante dele.
No autismo o que vale mais: O direito de ficar brava ou o equilíbrio do caminho do meio?
Confesso que minha fase de ficar brava, muito brava, já passou. Hoje não. Aprendi a usar a energia dispendida pela ira, para alcançar o equilíbrio. À moda Gandhi, tento usar essa energia pacificamente. Não ‘ad eternum’. Não sou tão evoluída, ainda. Construo, no cotidiano, minha Revolução Humana, como meio de inspirar pessoas. Creio na paz e na felicidade absolutas. Isso mesmo. A paz e a felicidade que não se abalam com os fatores externos. A paz e a felicidade que estão em mim, apesar de todos os possíveis e inevitáveis pesares.
Assim, confesso que há em mim, não a ira de um estado de vida baixo. Mas há em mim, a brabeza herdada de meus antepassados. Honro o nome de minha amada e resiliente madrinha e avó. Não à toa seu nome é Glória. Ela não está mais aqui. Não sofro. Ela está comigo. Sempre esteve. E é a ela que reverencio quando exercito a certeza de saber que tudo passa. E, se agirmos com sabedoria, o melhor sempre estará por vir.
Autismo – pelo direito de ficar brava, mas sem perder a ternura. Jamais!
Não sou mulher trans. Tenho uma filha trans. Portanto, eu sou TransParente. No trocadilho e na acepção conotativa da palavra. Ou seja, eu sou aquela “que permite perceber com clareza a própria psicologia.”
E é como mãe, que ando aflita, tristonha até. Minha menina teve uma intercorrência em sua cirurgia. Uma porcentagem mínima de possibilidade. No entanto, aconteceu com minha garota. E eu, que acredito que a melhor equipe para a redesignação foi escolhida, hoje temo pela falta de acompanhamento mais constante e de perto. A clínica escolhida é de Blumenau. Nós somos de Belo Horizonte.
Escrevi aos responsáveis pela Clínica. Responsáveis também, pela excelência da expertise a qual eles se dedicam. Contudo, no meio desse caminho existe uma fístula. Existe uma fístula no meio desse caminho. Mas, agora eu pergunto: Ao poeta Carlos Drummond de Andrade foi dado o significado da pedra no meio do caminho?
Nunca li o desfecho à afirmativa do poeta. Contudo, confesso: ainda creio que vou ter o “approach” desses dois seres que são os responsáveis pela realização do sonho de minha menina.