1 de junho de 2024

Tempo de Leitura: 2 minutos

Meu bom amigo Paiva me pediu, muitos anos atrás, que eu contribuísse com a recém nascida Revista Autismo, relatando as nossas experiências dentro do espectro autista, nos seus primórdios. Eu o fiz, com grande prazer e, talvez não tão grande competência.

Pedro nasceu autista, em uma época em que a referência de autismo era o filme Rain Man. Não existia nada. O caminho nós fizemos, do jeito que era possível. Graças à bondade Divina, nunca nos faltaram os meios para bancar as terapias que nos eram oferecidas com boa vontade, mas nem sempre com bons resultados, ou mesmo com algum resultado. A família, nessa hora, foi a pedra angular.

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Pedro frequentou a pré-escola regular, enquanto foi aceito (com acompanhante bancada por nós). Depois, migramos para escola especial, que estava começando a surgir. Sempre acompanhado por terapeutas: fono, psicóloga, etc. Cresceu e evoluiu. Mudou de escola, sempre especial, mudou de terapeuta também.

Foi um caminho longo, muito difícil às vezes, mas nunca estático. 

Veio a adolescência e seus incontáveis desafios. Sobrevivemos a ela, também. 

Seguimos no nosso mútuo processo de amadurecimento, Pedro, nós (seus pais) e a família. E os amigos, também. Eles cresceram conosco. 

Com o tempo, os resultados começaram a aparecer. Frequentar um cinema, um barzinho, comer pizza com os amigos nos sábados à noite. Ter amigos, isso também é uma vitória. Viagens, principalmente o gosto de ver coisas novas, bonitas, diferentes! Quem diria, não é? Para uma pessoa dentro do espectro! Pois então, com o Pedro é assim.

O tempo tem passado muito rápido ultimamente. Pedro é um adulto, vai completar 33 anos em junho. E nós, seus velhos pais, somos setentões (hehehe). 

Aos setenta, que completo agora em maio, cheguei à conclusão que está na hora de parar. Seguir de forma mais descompromissada, mais leve, já não é sem tempo. Seguir na vida que estamos forjando, meu filho, meu marido – pai do Pedro – e eu. Até porque, tem tanta gente mais jovem que pode contribuir com esta linda Revista.

Enfim, os problemas acabaram? Por Deus, não! Nunca acabam. Aprendi a selecioná-los. Ajuda muito. Mas há um, comum a todos nós, pais e cuidadores de pessoas dentro do TEA, que não conseguimos resolver. Somos mortais. Como ficarão nossos filhos? Moradias assistidas? Aqui, no Brasil? Bem, milagres acontecem, ou aconteciam em outros tempos. Contar com a família, com irmãos, primos, noras e genros, é o que resta. E, vamos combinar, é tremendamente injusto! Vamos seguindo, enquanto for possível, desfrutando o que já foi conquistado, rejubilando-nos com os novos sucessos e contando, como sempre aliás, com a Providência Divina.

Até mais ver, leitores bondosos que gastaram seu precioso tempo, ao longo desses anos, lendo, como disse o poeta, “essas mal traçadas linhas”.

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É casada e mãe de dois filhos, sendo o mais moço autista severo. Formou-se em odontologia, exerceu a profissão até 2006, quando decidiu dedicar-se integralmente ao filho.

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