1 de junho de 2019

Tempo de Leitura: 2 minutos

Pediram para que eu falasse sobre autismo severo, vou falar sobre o meu autista severo. Sou mãe de um rapaz de quase 28 anos, não verbal. De modo geral, até a adolescência, nossa vida não diferia muito da vida de outras famílias com autistas. Muita agitação, noites insones, seletividade alimentar, crises por qualquer coisa e por tudo. As questões mais difíceis começaram por volta dos 13 anos. Acontece que, naquela época, eu não fazia ideia do que se passava e usava as ferramentas que me foram transmitidas por meus pais e familiares, isto é, uma disciplina rígida e completo autoritarismo. Foi um desastre. Como meu filho não se expressava verbalmente, ele usou o que tinha à mão: agressão e violência. Ação e reação, agressão gerando agressão. O resultado foi terrível, com muitos hematomas, cabelos arrancados, móveis quebrados, janelas com placas de eucatex em vez de vidros. Eu vivia em pânico, pensando no fim inexorável, que seria internar meu filho.

Até que uma amiga, mãe de um autista mais velho que o meu, me aconselhou: nada de violência e sim muita firmeza, paciência, persistência e amor. Precisei mudar meus paradigmas, e fazê-lo entender que eu estava ali para ele e com ele. Sempre. Foram algumas semanas para ele perceber que eu não revidaria, mas que ficava muito magoada quando ele me atacava, e nem por isso eu desertaria. Depois disso, foram meses de exercício de tolerância à frustração, com muitas lágrimas. Meses em que estávamos sempre próximos fisicamente um do outro. Exaustivos! Até ele perceber que, mesmo que eu não estivesse visível, estaria disponível para ele, o apoiando. Depois, toda a família entrou nessa “vibe”! O pai e o irmão mais velho fizeram a parte deles, assim eu podia descansar, emocional e fisicamente. Não foi fácil. Se me permitem um conselho, usem sempre tolerância e firmeza com seus filhos, jamais violência física ou verbal. Mesmo que seja preciso contê-los, não o façam de forma truculenta, eles entenderão a diferença.

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Meu filho Pedro é um doce! Tolerante, amoroso, excelente companheiro, ele se percebe diferente, mas procura se aceitar, apesar de sofrer algumas vezes. Claro, não é um anjo, azul ou de qualquer outra cor! Tem seus dias azedos, como não? Ainda bem, ele é autista, mas é normal (eheh).

Hoje em dia viajamos, passeamos, vamos a baladas, encontramos amigos em restaurantes, uma vida plena, satisfatória. Ele tem seu grupo de amigos e frequenta uma clínica-escola.

Minha preocupação, agora, é com o futuro. Residências assistidas são raridades em nossa terra. A vida continua, logo, a batalha não acaba! Mas vamos em frente, na certeza de que a vida pode ser muito boa.

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É casada e mãe de dois filhos, sendo o mais moço autista severo. Formou-se em odontologia, exerceu a profissão até 2006, quando decidiu dedicar-se integralmente ao filho.

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