1 de março de 2021

Tempo de Leitura: 2 minutos

Há 17 anos os grupos de apoio aos pais/cuidadores eram escassos. Formamos um grupo, basicamente de mães da clínica-escola que nossos filhos frequentavam. Uma vez por mês, deixávamos as crianças na escola e íamos tomar café em uma padaria da cidade, famosa pelo seu buffet. Conversávamos, trocávamos ideias, consolávamos-nos. Era bom, além de necessário. 

Meu filho, ao adolescer, começou a ter demandas que eu não percebi. Como ele não é verbal, o seu modo de expressar suas necessidades era transgredir. Como sou de formação muito rígida, de origem alemã, era disciplinadora, mesmo que isso envolvesse castigos físicos (me penitencio até hoje por isso). Bem, é claro que não deu boa coisa… Pedro cada vez mais agressivo, nós tentando controlá-lo fisicamente. Terrível. Móveis quebrados, espelhos destruídos, tapas e puxões de cabelo, gritos e choros. Comecei a pensar, seriamente, que o fim do meu filho seria a internação, e isso me destruiu.

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Em um desses cafés, desesperada que me encontrava, comecei a conversar com a mãe de um colega do Pedro, mais velho. Eu queria desabafar, basicamente. Mas essa era uma amiga de ouro! Ela, não somente me escutou com muita empatia e compaixão, ela me contou a história dela, do marido e do filho. Curiosamente nossos filhos tinham muitas semelhanças em seus desenvolvimentos, e eles, ao contrário de nós, usaram os sentimentos para lidar com a situação. Então ela começou a me instruir, tranquilamente, pacientemente, sobre o que fazer nessas situações dificílimas. Mudei meus paradigmas, a partir desse dia. E iniciamos, eu e meu filho, uma longa e difícil estrada de retorno. E conseguimos! Foi uma jornada de autoconhecimento e de aceitação. Minha gratidão a essa amiga e sua família não tem tamanho.

Eis que, semana retrasada, recebi a notícia que todos estavam com Covid, hospitalizados. Mãe e filho na UTI. Começamos vários grupos de oração, uma corrente de boas vibrações. O casal começou a se recuperar, eventualmente receberam alta. Mas o nosso amiguinho, ele, infelizmente, ainda não apresentava melhoras. 

Ontem fui à missa de sétimo dia desse rapaz tão querido, que trilhou um caminho difícil, junto com seus pais. Conversei com minha amiga, apesar do distanciamento, e ouvi dela que, apesar da tristeza, ela tinha a sensação do dever cumprido, que seu filho estava bem, com toda certeza. Dizer o que? Só pedi que Deus a abençoasse grandemente, e lhe agradeci por ser quem ela é.

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É casada e mãe de dois filhos, sendo o mais moço autista severo. Formou-se em odontologia, exerceu a profissão até 2006, quando decidiu dedicar-se integralmente ao filho.

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Voltando às aulas, a pergunta é: e os autistas?

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