Tempo de Leitura: 2 minutos
Estava vendo uma foto do ano novo. Passamos em casa, só a nossa família. Somos cinco adultos — meu marido, meus dois filhos e minha nora. Todos nós alegres, sorridentes, bem próximos, para caber na selfie. Observando a foto, percebi que formamos uma moldura para o Pedro. Ele é a figura central. E me coloquei a pensar que assim tem sido nossa vida há 31 anos. O Pedro sempre no centro.
No início, com o susto do diagnóstico, nossa reação de pais e irmão foi cerrar fileiras em torno do membro mais frágil. E continuamos assim, procurando suprir as necessidades, compensar as dificuldades do Pedro. Dependendo da fase era mais fácil, ou terrivelmente difícil. Aos poucos, fomos construindo nossas vidas individuais.
Nosso filho mais velho, jovem, com sede de viver, foi o mais bem sucedido nesse projeto. Tocou a vida, formou-se, está construindo uma carreira de sucesso, no tempo certo, encontrou uma companheira muito especial e se casaram. Quanto aos velhos pais, bem, aí a coisa foi um pouco mais complicada. Um filho é um compromisso vitalício. Qualquer filho. Quando o filho é uma pessoa com deficiências, esse compromisso se torna mais premente. Não sei como as coisas funcionam em outros países, as diferenças culturais e materiais são enormes. Mas aqui, em terras tupiniquins, as coisas são desesperadoras. Ao fim e ao cabo, só podemos contar com o apoio familiar. Do Estado não vejo ajuda.
Todos vamos morrer, mais dia, menos dia, e aí? Meu filho não tem autonomia para viver sozinho, ele precisa de apoio, muito apoio. Até estou sabendo de alguns projetos de residências assistidas, mas são iniciativas privadas e custam caro. Com a grande concentração de renda que existe por aqui, pouquíssimos poderiam bancar essa solução, ainda que fossem muitas as residências, o que não é o caso. E ficamos em uma sinuca de bico!
Há alguns anos, soube que nosso filho mais velho tinha como certo se responsabilizar pelo Pedro, de forma que antes de casar-se, uma das questões colocadas entre o casal foi: o Pedro vai acabar morando conosco, você topa? Minha nora topou, é uma “pessoinha” fantástica. Mas, vejam, isso não me parece muito justo. Família é família, eu sei, mas acho que essa obrigação, de cuidar dos membros mais frágeis da sociedade, cabe ao Estado, ao poder público. A família até pode assumir essa tarefa. Mas não é obrigação dela. Será que estou errada? Não sei. O que sei é que existem muitas pessoas que necessitam desesperadamente de apoio e não encontram, por parte do Estado e da sociedade, nenhum auxílio. Difícil, muito difícil.