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Hoje eu vou falar de um tema que é ao mesmo tempo o sonho e o pesadelo de muita gente nesse universo do autismo. Um assunto recorrente no canal Mundo Autista: a sexualidade no autismo. Desta vez, vou abordar a sexualidade de um lado mais voltado para a autonomia.
A pessoa autista, do ponto de vista físico, se desenvolve como uma pessoa neurotípica, conforme suas características próprias. Mas esse desenvolvimento pode não acompanhar o mesmo ritmo quando se trata de outras áreas. Como os aspectos emocionais, por exemplo. Então, muitas vezes, pais e cuidadores duvidam que o autista tenha condições de se relacionar afetiva e/ou sexualmente.
O autismo na arte
Isso me lembra da primeira novela brasileira com uma personagem declarada autista. A Linda de “Amor à Vida”, exibida entre 2013 e 2014, na Rede Globo de Televisão. Na época houve bastante controvérsia com esse papel da atriz Bruna Linzmeyer. A personagem Linda começou a trama dando sinais de um comprometimento mais grave, dentro do espectro do autismo, inclusive intelectual. No entanto, com intervenções iniciadas na fase adulta, ela chegou a se casar. Entretanto, na fase adulta as possibilidades de intervenção são mais limitadas em casos como o de Linda. Certo foi que, na própria cena do casamento, a personagem parecia não compreender o que acontecia com ela e à sua volta.
Autismo, sexualidade e autonomia na arte não imitou a vida
Nessa novela, aconteceu uma certa confusão conceitual. Embora a construção da personagem Linda apresentasse características de uma pessoa no espectro, não ficou claro quais seriam as condições coexistentes dela. Esses diagnósticos concomitantes têm papel decisivo nas possibilidades de autonomia do sujeito autista. A deficiência intelectual é um exemplo.
A legislação brasileira resguarda o direito à autonomia e ao próprio corpo das pessoas com TEA. Mas, dependendo de seus diagnósticos e características, ela pode ser interditada e considerada legalmente incapaz. Isso pode ser um desafio de se mensurar na prática.
Pais e Cuidadores diante da sexualidade do autista
Assim, muitos pais e cuidadores, até mesmo por cuidado exacerbado, acabam se confundindo. Em 2017, a Associação Brasileira para Ação por Direitos das Pessoas Autistas (Abraça) lançou um manifesto no qual denunciava por meio de relatos de autistas o impedimento de acesso a seus direitos sexuais e reprodutivos, em razão de sua deficiência. Fatos que aconteciam, inclusive, utilizando-se processos como castração química, por exemplo. Para a instituição, tal postura contraria radicalmente a legislação vigente.
Logo, mesmo que uma pessoa apresente desafios na autonomia de suas atividades da vida diária, ela conserva o direito ao amor e à sexualidade. Mas precisamos compreender as nuances e características de cada autista para evitar que ocorram os temidos relacionamentos abusivos.