21 de setembro de 2022

Tempo de Leitura: 4 minutos

Por Nathalia Barreto

O uso de telas aumenta a cada dia na população. Seja em celular, tablet, TV ou computadores, essa é uma situação que cresce à medida que o acesso à internet e telas fica mais fácil. Com a pandemia, isso acelerou ainda mais, visto que as crianças não tinham com quem interagir — reflexo da suspensão das aulas nas escolas e distanciamento social. Com isso, assistir vídeos, desenhos e acessar jogos era o resultado da rotina.

Com o excesso de consumo de telas, muitos pais passaram a perceber como esse “vício” estava gerando comportamentos diferentes nos filhos: como distanciamento, falta de conversa, atrasos nos desenvolvimentos, entre outros. Esse assunto gerou um debate em relação ao “autismo virtual”, que seria causado pelo uso exagerado das telas. Mas será que ele existe mesmo? Vamos entender!

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Em primeiro lugar, precisamos falar sobre estudos e pesquisas sobre o autismo, o que há de comprovado sobre esse transtorno. O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição de alteração do neurodesenvolvimento, de base genética, ou seja, a criança já nasce autista e não desenvolve o transtorno com o passar do tempo. Por isso, é impossível existir autismo virtual.

O que pode acontecer nesses casos de uso excessivo de telas é um atraso no desenvolvimento da criança pela falta de estímulos ou interação social, ficando a maior parte de seu tempo apenas na TV e celular. Sendo assim, é natural que ela absorva apenas aquilo que ela assiste e isso passa a ser sua visão de mundo.

De acordo com uma pesquisa realizada pelo Hospital para Crianças Doentes da Universidade de Toronto, no Canadá, 30 minutos de uso diário desses aparelhos aumenta em 49% as chances de atraso no desenvolvimento da fala de bebês. Já outro estudo realizado por uma companhia de tecnologia infantil, a SuperAwesome, concluiu que crianças de 6 a 12 anos, nos EUA, passaram ao menos 50% do seu tempo mexendo em telas diariamente durante a quarentena do coronavírus.

Recomendação do uso de telas

Um manual divulgado pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) contém normas e recomendações que debatem o uso de telas e outras tecnologias para as crianças. De acordo com o documento, as mídias digitais, como aplicativos de vídeos, televisão, sites de jogos, entre outros, preenchem alguns vazios nas crianças, como o ócio, tédio, abandono efetivo ou a ocupação excessiva dos pais em outras áreas.

Nele existe a recomendação do uso de telas direcionadas para diversas faixas etárias. Confira:

  • de 0 a 18 meses: não deve ter contato com telas;
  • de 2 a 5 anos: é recomendado o uso de no máximo 1h por dia com supervisão;
  • de 6 a 10 anos: sempre com supervisão, limitar o tempo de 1 ou 2 horas por dia;
  • de 11 a 18 anos: com supervisão, limitar o uso de celulares, videogames ou televisão por 2 a 3 horas por dia.
  • nada de telas durante as refeições;
  • criar regras saudáveis para controlar o uso de aplicativos e outros dispositivos digitais;
  • denunciar conteúdos criminosos ou que podem gerar danos psicológicos para as crianças, como conteúdos sexuais, violência, abuso, entre outros.

O manual aponta também alguns dados importantes sobre o uso de telas pelas crianças e adolescentes, revelados pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br). De acordo com ele, 86% das crianças e adolescentes brasileiros, entre 9 e 17 anos, estão conectados na internet, número que corresponde a 24,3 milhões de usuários.

Cerca de 20% dos participantes do levantamento relataram contato com conteúdos sensíveis sobre alimentação ou sono:

  • 16% com formas de machucar a si mesmo;
  • 14% com fontes que informam sobre modos de cometer suicídio;
  • 11% com experiências com o uso de drogas;
  • cerca de 26% foram tratados de forma ofensiva (discriminação ou cyberbullying);
  • 16% relataram acesso às imagens ou vídeos de conteúdo sexual.
  • De acordo com o manual da SBP, as experiências geradas nas crianças e adolescentes por conta do uso de telas, principalmente em conteúdos violentos, jogos que exploram a violência, entre outros, podem ter impactos importantes na questão do comportamento dessas pessoas durante a vida adulta, e por isso precisam ser controladas.

Entre esses impactos, estão transtornos de sono, dependência de uso digital, sedentarismo, transtornos da imagem corporal e da autoestima, comportamentos violentos, problemas visuais, entre outros.

A SBP ainda lançou um vídeo educativo sobre esse assunto, que você pode assistir clicando aqui.

Afinal, crianças autistas podem usar telas?

Não existe nenhuma recomendação exclusiva que isole o uso de telas e autismo. Entretanto, existem especialistas, psicólogos e médicos que falam sobre essa questão e apontam que, muitas vezes, o uso da tecnologia de maneira controlada pode ser um ótimo aliado no aprendizado de crianças autistas.

Essas tecnologias podem servir como uma ferramenta de conexão entre crianças autistas e outras crianças. Hoje existem softwares e aplicativos de celulares que foram criados exclusivamente para crianças autistas, como aplicativo de jogos, de vídeos interativos e outras soluções criativas para trabalhar a socialização e a comunicação.

A verdade é que as telas podem ajudar sim às crianças, mas é necessário controle dos pais e responsáveis quanto ao tempo de uso e ao que está sendo consumido pelas crianças e jovens que as usam. Nada em excesso é saudável e é dever do adulto definir como a tecnologia será usada nesses casos.

 

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Sociedade Brasileira de Pediatria

  • Manual “Menos Telas, Mais Saúde”: arquivo PDF.
  • Vídeo sobre o uso seguro de telas:

 

Referências

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A Academia do Autismo é uma Instituição especializada no Transtorno do Espectro Autista, focada em transformar a vida das pessoas com TEA, a partir da qualificação de profissionais, pais e familiares. Conta com 80% dos conteúdos gratuitos, atuando também na disseminação de conhecimento sobre o autismo.

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