1 de dezembro de 2022

Tempo de Leitura: 2 minutos

Quando se fala em inclusão no ambiente de trabalho, comumente isso se refere apenas ao ingresso. Mas, e quando autistas que têm currículos exemplares conseguem sobreviver aos processos seletivos e ingressam em cargos de liderança? Que desafios surgem nesse contexto? 

Nos últimos meses, tive a oportunidade de atuar na gestão de uma equipe de oito pessoas em uma organização importante na minha área de atuação. Passada a euforia inicial por ter acessado esse espaço, não demorou para o autismo mostrar a cara: não conseguia permanecer “quieta” durante a formação devido ao excesso sensorial, não conseguia dar instruções a toda a equipe simultaneamente e tinha perdas ocasionais da fala, me comunicando apenas por escrito através do bloco de notas. 

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Sempre tinha a impressão de ser deixada para trás. Qualquer pessoa, mesmo aquelas que eu era encarregada de gerenciar, pareciam muito mais aptas para realizar a minha função. Em um espaço que eu deveria gerenciar, sentia que as minhas dificuldades eram um fardo. 

A liderança em geral está associada à hierarquia, e a presença de autistas nesses espaços tensiona este preceito, visto que o capacitismo subordina pessoas com deficiência às sem deficiência. As adaptações necessárias no ambiente de trabalho são vistas como fragilidade e falta de aptidão para o cargo. 

Estar nesse ambiente foi um grande exercício para reconhecer em mim mesma as habilidades de gestão para além dos prejuízos. O próprio conceito de liderança pode ser redirecionado para contemplar outras habilidades, como sistematização de dados, coordenação de atividades, proposição de dinâmicas e escrita e análise de relatórios. Ainda assim, autistas podem desenvolver uma comunicação assertiva, ainda que divergente.

Em geral, as empresas não estão dispostas a despender meios para garantir acessibilidade no ambiente de trabalho, porém tive a sorte de propor uma roda de conversa nesse ambiente, aberta a convidados externos, e embora tenha contado com um pequeno número de pessoas, estas participaram ativamente.

Após a roda de conversa, observei que a equipe se mostrou mais aberta à minha forma de comunicação, mais receptiva às adaptações e foi possível estreitar meus vínculos de amizade sem o estigma de ser uma pessoa que não entende e nem ri das piadas. É necessário reconhecer que, embora não apresentasse uma linguagem corporal compatível com meus colegas, embora precisasse me dirigir a cada um individualmente e às vezes me comunicar apenas por escrito, nenhuma dessas adaptações indica fracasso profissional ou inaptidão.

Gerenciar pessoas envolve lidar com suas nuances comunicativas, portanto, abrir um espaço para comunicação livre nas empresas, em que momentaneamente se rompa a rigidez hierárquica, pode indicar caminhos para uma maior produtividade e coesão interpessoal.

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Carol Cardoso é arquiteta formada pela Universidade Federal do Amapá, diagnosticada com Transtorno do Espectro do Autismo aos 21 anos, em 2018.

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