28 de fevereiro de 2025

Tempo de Leitura: 3 minutos

Você já ouviu falar no conceito de economia criativa? Esse setor representa 3,1% do Produto Interno Bruto (PIB) global, conforme estudo divulgado em 2023 pela Organização das Nações Unidas (ONU). Segundo o SEBRAE, a economia criativa pode ser definida como “negócios desenvolvidos a partir do conhecimento intelectual dos indivíduos”. Estimativas indicam que, até 2030, esse setor pode gerar até 1 milhão de empregos.

Ainda segundo o SEBRAE, os negócios da economia criativa envolvem bens e serviços de valor econômico baseados na criatividade, abrangendo áreas como tecnologia, design, cultura e moda. Como já mencionei em outras publicações, um dos grandes desafios para a inclusão dos autistas no Brasil é o acesso ao mercado de trabalho.

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Um estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), realizado em 2019, revelou que 85% dos autistas estão desempregados. Esse número pode ser ainda maior, considerando que a pesquisa tem seis anos e que muitos autistas podem estar na informalidade. Aliás, o mesmo levantamento indica que 55% das pessoas com deficiência trabalham na informalidade no Brasil.

O empreendedorismo como alternativa às barreiras do mercado de trabalho para autistas

Diante das dificuldades de inserção no mercado de trabalho — causadas tanto pelo capacitismo quanto por problemas estruturais que dificultam a contratação de autistas — o empreendedorismo surge como uma alternativa para aqueles que desejam evitar a informalidade e conquistar independência financeira.

Um dos setores mais relevantes da economia criativa é o de serviços, que se destaca na economia brasileira. Segundo o último levantamento do PIB de 2024, realizado pelo IBGE, o setor de serviços registrou uma alta de 3,1% em relação ao mesmo período de 2023, com a economia criativa representando 3,11% desse crescimento.

No entanto, empreender não é uma jornada simples. O empreendedorismo exige lidar com riscos, especialmente diante da instabilidade da economia brasileira e da falta de experiência de muitos autistas em iniciar e gerenciar um negócio. Esse desafio é ainda maior considerando que 20% dos pequenos negócios fecham após o primeiro ano, conforme apontado pelo IBGE.

Desde a Reforma Trabalhista de 2017, que enfraqueceu as leis trabalhistas e aumentou o desemprego, o empreendedorismo passou a ser visto como uma solução para garantir renda. No entanto, essa alternativa ainda exige proteção social e apoio do Estado, especialmente para grupos vulneráveis, como os autistas.

Quais os benefícios práticos da economia criativa para autistas?

Os benefícios da economia criativa vão muito além do impacto nos indicadores econômicos de um país. Esse setor tem um forte papel social, promovendo bem-estar e inclusão – algo essencial para autistas que buscam oportunidades no mercado de trabalho.

Basta uma rápida busca no Instagram para encontrar autistas atuando em diversas áreas, como professores, psicólogos, advogados, terapeutas e arquitetos, utilizando as redes sociais para expor seus trabalhos e oferecer serviços criativos e inovadores. Muitos autistas se destacam por sua hiperfocalização e criatividade, habilidades valiosas para o setor.

Entretanto, mesmo autistas oralizados e com relativa autonomia ainda enfrentam dificuldades para administrar as demandas de um negócio próprio. Embora o SEBRAE ofereça suporte aos pequenos empreendedores, principalmente aos que atuam como Microempreendedores Individuais (MEI), ainda faltam incentivos específicos para autistas.

Seria essencial o desenvolvimento de políticas públicas que garantam:

  • Acesso a linhas de crédito com juros reduzidos
  • Capacitação voltada para empreendedores autistas
  • Programas de incentivo ao empreendedorismo neurodivergente

Muitas das oportunidades disponíveis hoje não contemplam autistas, dificultando a inclusão dessa parcela da população no mercado de trabalho.

O trabalho vai além de um direito: ele é dignidade e autoestima. Para garantir uma sociedade mais inclusiva, o governo brasileiro precisa investir em políticas de fomento ao empreendedorismo autista. Afinal, a inclusão de autistas no mercado de trabalho não deve se limitar a espaços adaptados e terapias, mas sim à valorização de suas competências e à possibilidade de contribuir ativamente para a economia brasileira com sua inteligência e habilidades únicas.

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