10 de junho de 2022

Tempo de Leitura: 2 minutos

Desde sempre, ouvi a frase: “Se vier o frio que você está esperando…” Antes, eu não respondia, apenas pensava: “Ôh, seu filhote de ‘curuz credo’, (expressão muito usada por minha vó Glória.), eu não me visto para esperar frio. Eu me visto para esperar pessoas. Eu me agasalho quando já ESTOU com frio.” Muito chato ser julgada, avaliada, analisada por parâmetros que não são meus. Que não me definem. Sequer falam sobre mim. Aliás, cada um com seu cada qual, #diferenças

Disfunção sensorial, #diferenças

Também conhecido como transtorno do processamento sensorial, esses distúrbios biológicos interferem na capacidade do cérebro de entender os estímulos sensoriais. Esses estímulos podem ser vários. Por exemplo, sensações de cheiros, sabores, texturas, sons, luzes, cores, sensação de frio ou de calor e tudo mais que o corpo humano é capaz de sentir. Além disso, existem as sensibilidades relativas ao movimento do corpo. Tais como andar, correr, pular, subir escadas, balançar objetos, entre outros.

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Certamente, a disfunção sensorial não afeta somente o espectro do autismo. Mas, geralmente, pessoas dentro do espectro possuem mais sensibilidade. Por isso, podem ter reações ruins quando entram em contato com o que causa essa disfunção.

Minha mãe, desde que a conheço, sofre muito com o frio. Ela é hipersensível a ele. Logo, essa época do ano é um desafio para ela. Logo, é desafio para todos que a cercam. Do mesmo modo acontece com minha irmã mais velha e comigo.

Cada um com o seu cada qual

Assim, há muitos invernos percebemos que o frio afeta nosso dia e atividades diárias. Coisas como comer, sair, alimentar, o humor, entre outros. Dessa forma, é uma estação carregada de angústia para nós três. Mas, minha irmã, sempre atenta a destrinchar problemas, programou sua aposentadoria. Hoje, a danada, mora com o marido em João Pessoa. Adequou o ambiente, à sua necessidade.

Minha mãe, com isso, ganhou local garantido para ir no inverno. Comigo, entretanto, as coisas foram um pouco mais trabalhosas. Minha ansiedade e resistência aumentavam. E muito. Ou seja, porta aberta para mais complicações. Eu me enfurnava em casa, não queria comer. Minha digestão funcionava a (-1).

Autistas crescem, as #diferenças aparecem

Na medida em que fui crescendo, essa hipersensibilidade passou a interferir no trabalho, nos estudos. Ainda bem que já ganhava meu salário. Descobri que não odiava o frio tanto quanto imaginava. Eu não tinha era dinheiro para comprar as roupas adequadas: quentinhas e com tecidos confortáveis em contato com meu corpo.

Com o tempo, percebi que sempre fugia das situações que me incomodavam. Até porque eu ficava agressiva, mal-humorada. Descontava em quem tivesse perto, até sem saber o motivo disso. Ninguém suporta um adulto assim. Eu precisava me compreender melhor para agir na causa dessas minhas reações. Normalmente, minha hipersensibilidade ocorre com cheiros, sabores, texturas, barulho e outras sensações.

Aprendi que o sistema somatossensorial ou sensorial somático é um sistema complexo de neurônios sensoriais e vias neurais que responde a mudanças na superfície ou dentro do corpo, parte do sistema nervoso sensorial. Então, as consequências podem ser: excesso de sensibilidade ao calor, ao frio e a dores físicas. Assim, eu, minha mãe e minha irmã, somos hipersensíveis ao frio. Já para a dor, minha irmã é muito mais sensível que eu, por exemplo.

O mais importante de tudo, é lembrar que não existe um padrão específico de comportamento sobre os efeitos das sensibilidades. Cada autista (ou mesmo que não seja) é único. Portanto, suas características devem ser investigadas considerando a especificidade e a realidade de cada um.

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Jornalista e relações públicas, diagnosticada com autismo, autora dos livros "Minha Vida de Trás pra Frente", "Dez Anos Depois", "Camaleônicos" e "Autismo no Feminino", mantém o site "O Mundo Autista" no Portal UAI e o canal do YouTube "Mundo Autista".

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