4 de maio de 2023

Tempo de Leitura: 3 minutos

No 2 de abril, no Dia Mundial de Conscientização do Autismo, me deparei com uma equipe chamada REDDOGS e vários cães muito educados. Fiquei bem contente em vê-los, porque os cães de assistência estão sendo muito popularizados, mas conhecer alguém que saiba sobre o tema é de fato muito difícil.

Agendei uma entrevista com o Ronaldo Novoa, 51 anos, presidente do Instituto Reddogs, onde treinam cães para doação. Sim, doação, mas não se anime, estão com uma lista de espera de mais de 200 páginas. Atualmente, o maior gargalo para entregar mais cães é a falta de recursos financeiros. Ronaldo é adestrador de cães há 28 anos e, há 14 anos mais especificamente, adestrador de cães de assistência.

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O tema é tão complexo que vamos ter algumas outras publicações sobre ele. Cabe ressaltar aqui, caso você se interesse pelo tema ou já esteja querendo comprar um cão para alguém que esteja no espectro, não o faça até terminarmos nossa conversa. Um cão de assistência é muito mais do que ter um cão ou um pet.

Vamos começar pela seleção dos animais. A busca pelos cães começa ainda quando estão na ninhada, procurando pelos filhotes com características bem definidas: interesse pelo ser humano, os menos agitados, os menos agressivos e com linhagem genética conhecida para identificar doenças congênitas e temperamento dos antepassados. Os animais são comprados, ou seja, há um custo já no início da ONG que conta com pouquíssimos parceiros e/ou patrocinadores.

Sobre os patrocinadores, a ONG recebe o equivalente a 50% de ração que os atuais 20 animais consomem da Formula Natural e uma incrível parceria com o Center Norte que permite o treinamento dos cães no uso das escadas rolantes (explicações posteriores). E mais nada. Estagiários, pessoal de mídia, famílias socializadoras, limpeza, tosa, banho, tudo por conta do Ronaldo e voluntários. Trabalho incrível, não é? Mas não para por aí. E nem a entrevista. Foram tantos detalhes e tanto desconhecimento de quem vos fala, que teremos a parte 2. E da coluna também.

Voltemos aos filhotes. Tudo checado, nem sempre uma ninhada fornece o cão com os critérios necessários para o treinamento. Além disso, precisam ser de uma raça específica. Logo pensamos nos amáveis Golden Retrievers ou Labradores, no entanto, segundo Ronaldo, essas raças ficaram tão populares no Brasil que os cruzamentos sem controle produziram problemas genéticos nas raças, impossibilitando o adestramento. Precisam de animais que não passem muito tempo com cuidados e nem em veterinários e que cheguem na vida adulta com um peso ideal; são cães de assistência.

A raça escolhida é o Pastor Australiano. Uma raça há pouco tempo no Brasil e ainda muito pura. Animais que não ultrapassam os 25 kg e gostam da aproximação humana. Além disso, o equilíbrio emocional da raça é perfeito para o trabalho: entendem facilmente quando é o fim das brincadeiras. O peso do animal é importante para que não fira a pessoa em questão quando precisar deitar-se sobre ela e que, ao mesmo tempo, suporte o peso de uma pessoa caso ela se deite sobre ele. São animais de assistência.

Durante 2 anos, os animais passam por etapas de treinamento pelo instituto até chegar à casa da família que receberá seu cão de assistência. Durante esse período, Ronaldo e voluntários dão banho, tosam, limpam a sujeira, dão ração, água, remédios, vacinas, exames clínicos, exames comportamentais e treinam muito, mas muito mesmo, pois, para muitos, serão essenciais companheiros.

A primeira etapa é a socialização. Na melhor janela etária do cão, levam o filhote para conhecer o mundo, andar por multidões, shoppings (e é aqui que entram as escadas rolantes), veículos, bares, restaurantes e tudo o que possa aumentar o repertório de vivências deste animal que será muito útil quando for entregue a sua família definitivamente. Os animais vão passar por um período de adaptação com os seres humanos; treinando para não morder, não rosnar, brincar e deixar de brincar. Esse é o tempo em que precisam de famílias socializadoras que ficariam com os animais por cerca de 10 meses para um treinamento específico. Sem as “famílias” citadas, Ronaldo precisará fazer tudo pelos 20 atuais animais que está treinando.

A segunda etapa é a educação. Não comer móveis, onde fazer as necessidades, limpeza, treinados para não morder, não rosnar, brincar e deixar de brincar. Fazendo uma analogia, é o que aprendemos em casa com nossos pais: pedir por favor, falar obrigado e assim por diante.

A terceira fase é o treinamento básico. Sentar, deitar, esperar, não latir, atender quando chamado, brincar e parar de brincar.

A quarta fase é o treinamento específico:
a. Para cão-guia;
b. Para cão de assistência;
c. Para cão (co) terapeuta.

Querem saber mais sobre a quarta fase, famílias socializadoras e legislação? Acompanha a gente que tem mais sobre o Instituto Reddogs em breve.

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É psicóloga clínica, terapeuta de família, diretora do Centro de Convivência Movimento – local de atendimento para autistas –, autora de vários artigos e capítulos de livros, membro do GT de TEA da SMPD de São Paulo e membro do Eu me Protejo (Prêmio Neide Castanha de Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes 2020, na categoria Produção de Conhecimento).

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